MUITO PRAZER, MEU NOME É COMPLIANCE


Por Danilo Rizzo - Por dois anos e meio eu trabalhei numa multinacional britânica com diversos clientes, multinacionais líderes de mercado em seus seguimentos. Por trinta meses voei de norte a sul do Brasil, visitando pequenas, média e grandes empresas, dos mais diversos ramos de atuação, de têxtil a partes de automóveis, de calçados a alimentos, de soluções em TI a usinas de açúcar e álcool. Todas fornecedoras desses clientes multinacionais, que me queriam lá para garantir que esses parceiros cumpriam as leis e o que os códigos de conduta dispunham, e que os riscos colaterais estavam devidamente tratados e mitigados.

Em 2006 resolvi buscar novos ares e, entre uma viagem e outra, participava de processos seletivos, fazia entrevistas. Curioso que a cada conversa com recrutadores e gestores, eu precisava explicar o que fazia. Na época não estava claro para o mercado, até para alguns que trabalhavam comigo não estava claro, mas aquilo que fazia já era Compliance. Em que pese naquela época eu ter me preocupado em pesquisar e entender que meus reports faziam parte do processo de due diligence dos fornecedores dos clientes, e que esses resultados alimentavam uma matriz de riscos de Compliance, nem todos tinham essa curiosidade, muito menos o mercado.

Não quero ser dramático e gostaria muito de estar errado, mas a análise que fiz da mais recente pesquisa “Maturidade do Compliance no Brasil” da KPMG, a 3ª edição, Compliance ainda é algo distante e misterioso, a começar pelo fato de que das 21 milhões de empresas ativas no país, aproximadamente 450 empresas, ou 0,002%, ajudaram a consultoria nessa pesquisa. Levando em conta aspectos basais de um programa de Compliance, alguns resultados me chamaram a atenção, como o fato de 27% responderam não ter uma estrutura de pessoal dedicada ao Compliance, 10% responderam não ter um Código de Conduta e mais da metade das empresas que responderam à pesquisa, 54%, afirmaram não ter um processo eficiente de due diligence. Ainda, em que pese 72% responderem terem sido treinados em temas relativos a Compliance, Anticorrupção, Ética e Conduta, 61% afirmaram não ter treinado seus fornecedores nos mesmos temas. Finalmente, 20% dos pesquisados não tem um canal de denúncias implementado, 23% declararam não possuir autonomia e independência, e quanto a cultura de governança, apenas 59% responderam haver um efetivo envolvimento e patrocínio da alta direção.

O estudo da KPMG é bastante abrangente e traz muito mais dados do que os que eu abordei acima. Tentei me manter no que realmente é a base de um programa de Compliance, pois os resultados colhidos sobre esses temas estão longe de serem satisfatórios, mas recomendo fortemente a leitura de todo o conteúdo. Não serei injusto, desde 2006 o cenário melhorou, mas não posso me iludir, pois ainda há um longo caminho a percorrer já que hoje, em 2018, a maioria esmagadora das empresas brasileiras estão longe da maturidade que os gringos atingiram a mais de uma década.

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