SEUS TOSCOS


Por Danilo Rizzo – Em junho de 2014 eu escrevi o texto “A Civilização dos Mimados”. Baseei-me em algumas ideias do filósofo Luiz Felipe Pondé para criticar a falta de pensamento crítico de meus vizinhos. Naquela ocasião, uma serie de acidentes automobilísticos numa via próxima desencadeou um debate virtual, daqueles bem pós-modernos, sobre o que deveria ser feito pelas ‘autoridades’. Levando em conta que as discussões no bairro sempre concluem que os acidentes não tiveram o condutor como culpado, mas sim as vias, a solução que mais teve repercussão era a implantação de lombadas, físicas e não eletrônicas, o que, na cabeça de quem sugeria, reduziria a velocidade dos carros e, portanto, o número de acidentes.

Meu pai já dizia para termos cuidado com nossos desejos e, como não tiveram, a Prefeitura, tão tosca quanto meus vizinhos, floriu a via de lombadas... Atualmente são mais de 11 em um trecho de cerca de 2KM de via que, como toda alameda de bairro residencial, tem limite de velocidade que varia entre 40 e 50KM/h. O resultado prático é que o consumo médio de combustível dos carros aumentou, porque é um acelera e freia interminável, e maior tempo de deslocamento, já são poucos os trechos que se consegue atingir e manter a velocidade máxima da via. Sobre os acidentes, não houve redução. Repetindo meu texto de 2014: “É só transitar por aquela avenida num domingo pela manhã, para encontrar um ou mais coqueiros caídos, acompanhado de marcar de pneus adentrando o verdejante gramado no canteiro central da via.”.

Na época, meu voto sobre a causa dos acidentes foi para os motoristas e não para a via. Voto vencido é claro. Os toscos dos meus vizinhos de fato pensavam que a via era o problema, mas os acidentes continuam, religiosamente aos finais de semana, como se as lombadas não existissem.

Eis que há algumas semanas, começaram com outra moda, obviamente por culpa da via: Começaram a tirar rachas! As aclamadas lombadas são tão eficientes, e os moradores e das autoridades são tão toscos, que até racha fazem na via. E o que os rachas do dilúculo causaram? Novas discussões virtuais!

Entre provocações e reclamações egoístas de que os rachas não deixam as pessoas dormirem, dessa vez, aparentemente, há um consenso de que a culpa é dos condutores. Mas a via não ficou impune, foi criticada por alguns por ter um asfalto liso e não ter radares de velocidade. Novamente percebo que as pessoas não conseguem pensar em longo prazo, pensar no bem comum, sugerir alternativas viáveis para o problema de educação, ou neste caso falta dela, que pontualmente acomete o bairro. Massacram a vereadora local com pedidos esdrúxulos e perguntas idiotas. Não que a legisladora não deva ser exigida, mas é preciso entender os papeis, principalmente entender o papel de cada um como cidadão. Em suma, antes tivéssemos pontos vazios no asfalto como há na mente dos meus vizinhos.

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