QUERER É: QUERER


Por Danilo Rizzo - Já ouvimos aquela história de que o ser humano nasce puro e é corrompido pela sociedade, e também já ouvimos que cada um nasce com tendências e, portanto, há um aspecto individual que pode determinar as decisões que tomaremos em determinados momentos de nossa vida. Não sei qual dessas hipóteses é a predominante, mas na minha percepção, ambas convivem no mesmo ser.

Um aspecto cada vez mais latente, e que me faz refletir sempre, é o aflorado entendimento de que o desejo é direito. Ou seja, uma vez que desejamos algo, nos permitimos fazer qualquer coisa para consegui-la. Como sou pai, me permita inserir o contexto escolar, onde, por tratarem-se de seres em formação, o usual é o direito sucumbir ao desejo. O desejo individual se impõe sobre o coletivo e transforma crianças em sujeitos incapazes de conviver em grupo, que não aceitam opiniões diferentes das suas ou críticas de qualquer natureza. A falta de direcionamento gera um efeito dominó, colocando seres em formação nas mãos de pais que não experimentaram limites quando eram crianças, que são deprimidos e que entendem que seus filhos precisam ser felizes a qualquer custo. Porque, que tipo de limite um pai que não cumpre as regras, pode impor ao seu rebento? Se eu paro em fila dupla, ando acima da velocidade máxima da via, pirateio sinal de tv fechada, sonego impostos, meu filho entenderá que ela poderá fazer qualquer coisa, legal ou ilegal, para conseguir o que deseja.

Certa vez, compus a plateia de uma palestra dada por Luiz Felipe Pondé, que comentou sobre a geração criada em quartos com suítes e que, na visão dele, não experimentaram alguns incômodos e frustrações fundamentais para criar uma pessoa capaz de viver em sociedade de forma razoável. Disse ele que dividir o banheiro com outra pessoa molda mais o caráter de uma criança do que qualquer palestra de ética dada na melhor escola do país. Sobre o tema, outro filósofo, Mario Sergio Cortella, também sugere uma discussão em torno desse tema, e extrapola o período infanto-juvenil indicando que esta confusão na infância produz adultos convencidos de que o desejável assume um caráter de direito, que por sua vez produzem uma sociedade que tem por característica um ambiente de convívio onde é frequente o uso da chantagem como instrumento para exigir que algo lhe seja dado e, em casos agudos, gera corrupção, violência, intolerância de todo gênero e morte.

Sentimentos são discutido desde que o mundo é mundo, literalmente. Platão, Aristóteles, Heráclito, Schopenhauer, Hobbes, Nietzsche, Hegel, Descartes, Espinosa, Freud, Lacan, etc. Todos falaram sobre desejo, angústia, gozo, sofrimento, felicidade, mal-estar. Que somos seres desejantes, isso é fato, mas o que nos torna diferentes dos outros animais não é a capacidade de raciocínio, como muitos pensam, mas a ética, a Inteligência que temos para conviver uns com os outros, mais do que isso, a capacidade que temos de aprimorar essa convivência, e o filtro dessa problemática, do desejo ser entendido como direito, é o convívio, é a ética, é entender, desde cedo, que esse comportamento imprudente condena o presente e futuro, individual e coletivo.

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