99% MIMADO E 1% SAFADÃO

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Por Danilo Rizzo - Há tempos tratei desse tema aqui no blog ao publicar o texto A CIVILIZAÇÃO DOS MIMADOS, para tentar ilustrar algumas atitudes das quais custo a aceitar no convívio social... E não me refiro a questões terminativas como discutir o limite do convívio social de quem mata alguém. A proposta inicial era discutir algo mais sutil, expondo ultrajes cotidianos – não que assassinato não seja algo cotidiano nesse país – motivados por desejos individuais que mesmo os auto proclamados homens de bem cometem.
A discussão sobre moral e ética nunca esteve tão em ebulição como está hoje, e eu já escrevi isso antes... Também já escrevi que tanto uma quanto outra - moral e ética – têm vínculo estreito com o próprio ser, com cada um de nós, e é ai que nossa evolução social e pessoal está patinando.
Minha busca trouxe alguns conceitos interessantes sobre o termo ‘mimado’. O dicionário define a pessoa mimada como aquela que é muito protegido pelos pais ou algum parente, que recebe muitos agrados, que sempre pedi ajuda aos pais e geralmente não tomam decisões sozinhas. Alguns blogs voltados para a discussão psicológica tratam o ‘mimo’ como doença, e elegem alguns traços presentes no comportamento de todos os mimados: reatividade, exclusivismo, parcialidade, egocentrismo, pessoalismo, e imediatismo. Percebam que por traz desses conceitos está a incompetência flagrante no controle do que se deseja. Fazendo um exercício rápido e superficial dos nossos problemas cotidianos mais explícitos, notamos claramente a presença massiva de pessoas mimadas ao nosso redor. Pessoas de moral inconsistente e de conduta aderente aos conceitos da ética da conveniência, que eventualmente fazem mais mal há quem está ao seu redor, do que um assassino que hoje vive encarcerado. Novamente, a proposta não é discutir o óbvio, mas sim o que poucos veem, ou o que a maioria não quer ver.
Evitemos o ambiente político-policial que está em maior destaque, e passemos a observar atitudes diárias, como atravessar a rua. Meu trajeto casa trabalho é curto, cerca de 5KM, e nesse pouco tempo, consigo me deparar com pedestres servidos de faixa de segurança a cada esquina, se aventurando a atravessar a rua no meio de quarteirão. Esta é ou não atitude de uma pessoa doente, que falhou ao tentar controlar seu desejo, e não nota que coloca a vida de diversas pessoas em risco (inclusive a própria) em prol da conveniência de atravessar a rua onde bem quiser. Lembrando-se dos traços psicológicos dos mimados, no exemplo que descrevi o exclusivismo, a parcialidade, o egocentrismo, o pessoalismo, e o imediatismo saltam aos olhos... Chegam a agredir. Eu poderia utilizar incontáveis outros exemplos para explorar o conceito do ‘mimo’ na sociedade contemporânea... Não usar seta, exceder limite de velocidade, não devolver o troco dado a mais, gatoNet, esperar que o Estado dê o exemplo, etc. Pensar que mimada é apenas a criança que não empresta seu brinquedo é um erro a não se cometer, sob pena dessa doença impedir a evolução ética que se espera desse país, e que é nossa única salvação.
Ética tem tudo a ver com convívio, com compromisso, e com felicidade. Neste sentido, gosto muito da forma como Epicuro trouxe a termo sua ética. Dizia ele que a felicidade plena se dá pelo alcance do estado estável de prazer e equilíbrio, tranquilidade e ausência de perturbações, alcançada por meio do controle dos medos e desejos. De onde estiver, Epicuro deve nos olhar com dó.

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