MORTE E ALEGRIA

Por Danilo Rizzo - A constatação de que vamos morrer é, efetivamente, a única certeza que permeia nossa existência. Eventualmente temos temporariamente certeza de algumas coisas, mas, quando esse futuro previsível baseado em mero palpite se transforma em passado, o que resta é a certeza da morte.
Entre nascer e morrer, passamos por uma fase chamada vulgarmente de vida. Todo mundo tem, vida, e não me faz sentido perceber o contingente de seres humanos que não notam isso. Como cães a frente do forno de frango da padaria, se prestam a viver a vida dos outros... Suas frustrações, paixões, desejos, angustias. A cada um de nós, durante boa parte desse lapso temporal de existência terrena, cabe viver as consequências de nossas escolhas.
Viver a consequência de nossos atos, nesse ambiente livre, é desafiador. Dividimos o planeta com bilhões de pessoas, que também são livres, e que também vivem as consequências das próprias escolhas. E não é incomum encontrarmos aqueles que creem que, por uma determinada escolha, vivem melhores que os outros. A essas pessoas a filosofia da o nome de tirano. Tirano é aquele que acha que a própria alegria é a alegria do mundo, que crê que o que lhe faz feliz, fará a todos feliz... Erro há não cometer. Por vezes o tirano se apodera de ar celestial, superior, especialmente quando você nega aquela condenação travestida de convite para fazer academia. Ora, se eu quisesse emagrecer, iria voluntariamente ao médico buscar essa recomendação. Se caminhar sem sair do lugar até suar feito uma tampa de panela de arroz faz você se sentir bem, o faça. Para mim, prefiro o arroz com aquele feijãozinho puxado no alho e bacon... Se acompanhar um ovinho com gema mole... Melhor ainda! Do mesmo jeito que minha iguaria pode te soar um absurdo, note que sua proposta tem esse mesmo efeito sobre mim.
Claro que não estou tentando dar uma de tirano. Minhas escolhas são minhas, e cada uma tem uma razão de ser. Não me uso como régua para nada, pois a única vida que conheço razoavelmente bem é a minha. Se acho que minha vida é melhor do que a vida de quem tem 8% de gordura no corpo? Naturalmente que sim... Simplesmente pelo fato de saber que foram minhas escolhas que me fizeram chegar à vida que tenho hoje. Mas não vou viram para um Neandertal de academia e sugerir que ele leia Nietsche enquanto toma sua bomba de Whey pela manhã. Se me alegro assistindo Cosmos ou lendo Clóvis de Barros e Júlio Pompeu, isso é um problema meu. Assim como o que te faz feliz é um problema só seu, do qual eu mais atrapalho que colaboro.
Vamos todos morrer, eu que aprecio comidas gordurosas e contemplo o sedentarismo, e você que persegue a silhueta “perfeita” porque acha que as pessoas vão te amar mais se você for magro. Vamos morrer cada um ao seu jeito, mais cedo ou mais tarde. A jogada é que, como não sabemos quando, a intenção de prolongar a existência desse organismo em constante decomposição que chamamos de corpo, é inócua, irrelevante, não vai adiantar, e enquanto essas variáveis não mudam, me permita recusar suas ofertas de ascender ao olimpo físico. Deixe-me com meus livros de ética e filosofia, meus jogos de computador, e meu arroz na banha de porco.

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