ELEIÇÕES ARGENTINAS E O FIM DO KIRCHNERISMO

Imagem de arquivo pessoal do autor
Por Gerson Moyses - Hoje acontece o segundo turno da eleições para a presidência da Argentina, e deve ser eleito o candidato da oposição Maurício Macri. As últimas pesquisas mostram que Macri disparou na liderança e tem 52,8% das intenções de voto contra 42,6% do candidato kirchnerista, Daniel Scioli. Até a véspera do primeiro turno, Macri era considerado o derrotado. E hoje, é o favorito para vencer o pleito. A reviravolta eleitoral na Argentina é histórica.
Macri é filho do empresário filho do empresário Franco Macri, ícone do capitalismo argentino nos anos 80 e 90. No início dos anos 90 trabalhou nas empresas do pai. Em 1995 foi eleito presidente do Boca Juniors. Durante sua gestão transformou o time em uma máquina de marketing esportivo e por isso tornou-se uma figura conhecida do grande público. No final dos anos 90 começou a flertar com a política, aproximando-se do então presidente Carlos Menem (1989-99). Em 2003 criou seu próprio partido, o Compromisso pela Mudança (CpC), que desde 2005 integra a coalizão Proposta Republicana (PRO). Em 2005, foi eleito deputado. Em 2007, venceu a eleição para prefeito de Buenos Aires, e, em 2011, foi reeleito para um segundo mandato. Fã do ex-vocalista do Queen, Freddy Mercury, por duas décadas Macri ostentou um bigode como o do cantor(!). Quando eleito, em 2007, adotou a música “We will rock you” como tema da vitória.
Apesar da virada nas pesquisas de intenção de voto, o kirchnerismo é forte e tem muitos recursos a usar. Nos 12 anos de poder, Néstor Kirchner (2003–2007) e Cristina Kirchner (2007–2015) tomaram conta da máquina estatal com um estilo parecido com o bolivarianismo (na Venezuela) e Petismo (no Brasil): sustentam movimentos sociais com dinheiro público (recentemente as Avós da Praça de Maio declararam apoio a Scioli), distribuem benefícios sociais que incluem subsídios a tudo (de eletricidade a transporte público), combatem a imprensa e apelam ao populismo desmedido. Se utilizam do marketing eleitoral de maneira irresponsável e utilizam a tática do medo para ‘desconstruir’ os adversários. Adotam políticas econômicas intervencionistas e anticíclicas, para tentar estimular o crescimento da economia. No início a pobreza diminuiu, o desemprego caiu e muitos números macroeconômicos apresentaram melhorias. Mas, como no Brasil, esse modelo se esgotou, trazendo recessão, desemprego e aumento da inflação.
Nos últimos 2 anos, sob a gestão do ministro da Economia, Axel Kiccillof, o câmbio oficial saltou de 6,01 pesos para 9,57 pesos; o déficit fiscal primário foi de 2,3 para 5,6 pontos do PIB; a atividade industrial caiu 6,9%; a taxa de juros saltou de 15,2% para 26%; o desemprego subiu de 6,3% para 9,8%; e a inflação manteve-se entre 26,4% e 24% ao ano. Pode-se afirmar que, vitorioso, Macri herdará a economia da Argentina em frangalhos.
A população percebeu a degradação da economia e a piora das condições de vida, e aponta para uma mudança. Esse comportamento do eleitor argentino pode indicar o fim da onda populista de esquerda na América do Sul. Prova disso é que no Brasil e na Venezuela as últimas vitórias da situação foram muito apertadas. Seria o início da quebra da frente de seis governos sul-americanos de esquerda, que além dos países citados, também conta com Uruguai, Bolívia e Equador. O próximo capítulo dessa história será a eleição parlamentar de 6 de dezembro na Venezuela. Vamos aguardar.

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