ACABOU A OSTENTAÇÃO HÍDRICA: DE VOLTA PARA O FUTURO

Por Gerson Moyses - “Há mais de seis meses, as regiões Sudeste e Sul enfrentam a pior seca, desde 1930. No Rio Grande do Sul, o Rio Uruguai está tão seco que pode ser atravessado de caminhão. As Cataratas do Iguaçu tem apenas alguns filetes de água. Os reservatórios das usinas hidrelétricas estão com níveis tão baixos, que há cortes de luz em mais de 500 cidades. Em São Paulo Represa de Guarapiranga, que abastece 25% da população da Capital Paulista, está com apenas 15% da sua capacidade”. Estas parecem notícias atuais, mas são do ano de 1985!
Bem, continuemos há 30 anos.
Em ano de eleições para prefeito, o então governador de São Paulo, Franco Montoro (PMDB), negou sistematicamente que haveria racionamento de água, apesar da seca (isso para beneficiar o então candidato Fernando Henrique Cardoso, que acabou sendo derrotado por Jânio Quadros). O presidente da Sabesp (Gastão Bierrenbach) afirmou que a empresa estava preparada para enfrentar a grave estiagem. Na verdade, não estava. Após as eleições, em novembro, a Sabesp iniciou as ações de combate ao desperdício, o que não surtiram efeito. Então, em dezembro o governador anunciou o racionamento de água. Outra medida anunciada foi uso de outras represas para socorrer a Represa de Guarapiranga. Assim, obras foram realizadas para ampliar a captação das Represas da Cantareira.
É incrível perceber como um trágico cenário de trinta anos atrás se repetiu em 2014. A falta de planejamento e de gestão são as causas dessas calamidades.
O verão de 2015 foi bastante chuvoso, o que aliviou um pouco os reservatórios. Nesta semana, após quase dez meses, as bombas usadas para captar água do volume morto na Represa Atibainha, em Nazaré Paulista, foram desligadas. Pela primeira vez, desde agosto de 2014, o nível do segundo principal reservatório do Sistema Cantareira ficou acima de zero, permitindo a retirada da água por gravidade. Na prática, porém, o nível do manancial continua negativo, em -9,2%. Isso porque ainda existem outros 90 bilhões de litros de água do volume morto que não foram recuperados na demais represas do sistema.
Imagem: segredosdavitalidade.com.br
No Alto Tietê, o nível é de 21,0%; na Guarapiranga, 77,4%; no Alto Cotia, 65,7%; e no Sistema Rio Grande, 90,4%. É uma situação bem melhor que a de dezembro de 2014. E isso faz com que todos esqueçam do passado. No condomínio onde moro, por exemplo, o consumo de água aumentou, se comparado ao segundo semestre de 2014. Não ouvimos mais o governo falar em investimentos na modernização da rede, no combate à perdas no sistema, nem na ligação entre o Rio Paraíba do Sul e o Sistema Cantareira. Esses eram discursos frequentes no auge da crise!
Enquanto não combatermos sistematicamente a cultura do desperdício, o desmatamento das florestas e matas ciliares, a falta de tratamento de esgotos, as perdas das redes de água, a ineficiência dos equipamentos, os roubos e desvios do sistema, as brechas da legislação e a falta de educação ambiental, sempre considerando a irregularidade das chuvas, continuaremos vulneráveis.
Será que no futuro ficaremos novamente reféns de graves estiagens? Será que sofreremos com racionamentos, aumentos de tarifas e multas? Aposto todas as minhas ficha que SIM! As visões imediatistas dos nossos governantes nos farão reviver cenários já conhecidos. E assim, como escrevi anteriormente, ostentação hídrica será tomar um copo de água com os amigos!

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