PARABÉNS PELO SEU PRIMEIRO MILHÃO

Por Danilo Rizzo – Eventualmente participo de conversar entre amigos ou familiares sobre riqueza... Quanto dinheiro preciso ganhar para deixar de trabalhar? Quanto patrimônio preciso acumular para realizar meus sonhos? Os valores variam muito, e a forma como atingi-lo também. Aparentemente trabalhar e controlar gastos são opções secundárias, quase uma tolice, em comparação à frequência com que o termo “mega sena” é citado. O tema me fez lembrar um texto que li recentemente, de um executivo do mercado financeiro, que conta sua trajetória em busca do primeiro milhão, até o momento em que se percebeu ‘rico’.
Foto: consciouslifenews-com
O tal executivo relatava que havia trabalhado no mercado financeiro por cerca de uma década antes de eu conquistar o meu primeiro milhão e, para atingir essa meta, trabalhava longas horas, aproximadamente 100 horas por semana. Por ter tão pouco tempo para se dedicar a quais quer outras atividades, acabou economizando uma boa parcela do salário. A essa altura, três anos após a graduação, ele ganhava cerca de 85 mil dólares por ano de salário e outros 50 mil em bônus em dinheiro, em face de despesas de aproximadamente 40 mil dólares por ano. Aos 25 anos ele havia conseguido acumular um quarto de milhão. Depois de uma guinada na carreira, ao longo dos cinco anos seguintes, a média de renda chegou ao patamar de 250 mil em salários e a mesma quantidade de prêmios em dinheiro. Com o casamento e os filhos, as despesas subiram muito, mas com 30 anos, ele tinha batido a meta de ter um milhão de dólares em reservas. O relato continua e, como resultado de apostas certeiras, poucos anos depois, suas reservas já acumulavam 5 milhões de dólares.
Para muitos, perceber-se como alguém ‘rico’ está relacionada à independência financeira, a parar de trabalhar para outra pessoa e começar a trabalhar para si, ao poder de comprar. Essa é uma visão ocidental típica, compartilhada pelo executivo em finanças que escreveu o texto, e por muitos de nós. Mas penso que essa percepção descarta algo muito importante, para mim, fundamental na definição individual desse conceito de ‘ser rico’. Refiro-me ao ‘estilo de vida ideal’, tão subjetivo e particular quanto à ideia de riqueza.
Se um filósofo grego clássico caminhasse pelas ruas de Nova York, não veria ali qualquer sintoma de riqueza, pois, para ele, a riqueza estava associada à disponibilidade de tempo livre e o seu uso para o exercício da cultura. Se um cidadão da Idade Média fizesse o mesmo percurso na mesma cidade, também não veria riqueza, pelo menos até entrar na primeira igreja visse, e mesmo assim a acharia pobre. A relação entre dinheiro e riqueza é bastante recente, mas o conceito não se sustenta em si, ele precisa se relacionar com a necessidade de cada um, não há um número mágico aplicável a todo cidadão do mundo. Uma pessoa rica em São Paulo precisa ter um carro de luxo? Precisa morar num apartamento próximo ao metrô? E uma pessoa em Mogadíscio, na Somália, precisa de que?
Penso que rico é quem possui mais do que necessita para viver. Sei que é uma definição ampla, porém é democrático e abrangente. Baseio-me nas ideias de Epicuro sobre o prazer. Dizia o filósofo grego que devemos buscar o prazer da justa medida e não dos excessos, ter prazer apenas na satisfação da necessidade. Buscar prazer do que desejamos, ou dos excessos, só traz angústia. Portanto, claro que não me refiro a necessidade de tem um iPhone ou um SUV, mas sim às necessidades reais, básicas, caso contrário entraríamos no mesmo looping que é o conceito de riqueza aplicado pela novela das nove.
Nosso conceito moderno de riqueza é pobre e não resiste a uma análise filosófica que tente entender o seu significado. Lembrando-se do grego e o medieval passeando por Manhattan, certamente ficariam fascinados pelo avanço da medicina, mas não com outros avanços que roubam o mais precioso de todos os recursos: o tempo de vida de uma pessoa. Também se deslumbrariam com a riqueza do avanço na expectativa de vida e na redução do sofrimento, mas uma pessoa da antiguidade ficaria indignada com o privilégio que faz com que algumas pessoas vivam mais e com menos dores do que outras, porque dispõem de dinheiro para comprar vida e saúde. Moralmente, a riqueza atual é ainda mais pobre.
Concluindo a narrativa do executivo do mercado financeiro, ele ainda trabalhou duro por vários anos para ter certeza que suas fontes de renda se manteriam saudáveis. Hoje não mora mais em Nova Iorque, se dedica aos filhos, tem um gasto mensal em torno de 5 mil dólares, faz compras no Costco, e percebeu que uma grande parte do "ser rico" é psicológico e que menos tem a ver com a quantidade de dinheiro que você tem, e mais com o suprimento das necessidades de um estilo de vida que te faz feliz.

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