ACABOU A OSTENTAÇÃO HÍDRICA!

Imagem: www.angeloni.com.br
Por Gerson Moyses - Desde sempre ouvimos falar que a água era um recurso renovável, e até infinito! Há muito ouvimos também sobre a tragédia da seca no nordeste. O que todos já sabem é que, há cerca de um ano, a região sudeste também vem sendo gravemente assolada pela pior crise de falta de água que se tem notícia.
A redução do volume de chuvas em 2014, que reduziu drasticamente os volumes dos reservatórios. Isso associado à falta de investimentos, ao mau uso da água pela população e à má gestão dos recursos hídricos pelos governos, projeta um cenário nada animador, que preocupa empresários, agentes públicos e o cidadão comum. Nunca vivemos um drama como esse.
Até a metade do mês de fevereiro de 2015, já havia chovido a quantidade prevista para o mês inteiro. Mas, apesar do grande volume de chuvas desse verão, os reservatórios estão muito abaixo dos níveis históricos. Para se ter uma ideia, em fevereiro de 2014 o sistema Cantareira registrava 18,5% da capacidade. Em 20/2/15, após zerarmos a quantidade normal e invadirmos 2 cotas do chamado ‘volume morto’, registrou-se 9,5% da capacidade. Na verdade estamos a 19% abaixo do nível ‘zero’, ou seja, temos que preencher todo o volume morto para iniciarmos uma real recuperação desse reservatório. O mais triste é que para aumentar 0,1% do volume, deve-se acumular 900 milhões de litros, o que dá para um dia de abastecimento. A crise está muito longe de acabar.
Essa situação já tem nos estimulado a repensar alguns comportamentos, mas vai nos obrigar a mudar práticas, rever prioridades e abrir mão de alguns confortos que, até pouco tempo, considerávamos como direitos intrínsecos, adquiridos e vitalícios.
Com a crise da água, num futuro não muito distante, qualquer volume de água que não for usado para o consumo humano, para a higiene pessoal e para os processos produtivos essenciais (principalmente alimentos e energia), serão eliminados.
Estamos prestes a dar adeus aos equipamentos que não se prestam aos nobres motivos citados acima. Chafariz, fonte luminosa, fonte de feng shui, banheira de hidromassagem, banheira de ofurô, sauna úmida, ducha circular, ducha havaiana, duchas de cascata, ferro a vapor, vaporeto, piscina, parques aquáticos, balneários, umidificadores de ar, climatizador de ambiente, pista de patinação no gelo, pistola de água, bisnaga de carnaval, aquário, lava-rápido, mangueira de jardim, toboágua, fábricas de bebidas alcoólicas, vaso sanitário de baixa eficiência, torneiras sem redutor de vazão, chuveiros de alta vazão, máquinas de lavar roupa que não reaproveitam a água, aquecedores de calefação, entre outros, correm o risco de desaparecer.
Provavelmente, ter a posse, e principalmente fazer uso de alguns equipamentos, será considerado imoral no curto prazo (como já acontece hoje com quem lava calçadas). Chego a arriscar que no médio prazo, isso será criminoso e levará o portador e o contraventor a responder a um processo criminal e até ir para a prisão.
As indústrias que utilizam água como matéria prima para atividades não essenciais, ou que utilizam ou produzem os equipamentos citados, provavelmente terão que repensar seus modelos de negócio.
A era da ostentação hídrica acabou. Não será mais possível utilizar a água como matéria prima para a diversão, para a decoração ou para o lazer, por que não haverá recurso para isso. Temos que cobrar a responsabilidade da população, no que se refere ao consumo consciente e ao combate ao desperdício, e cobrar dos governos uma boa gestão dos recursos hídricos e a eficiência do sistema. Se isso não acontecer, infelizmente não teremos água nem para as atividades básicas e essenciais. Pode ser que no futuro, ostentação hídrica seja tomar uma taça de água com os amigos!

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