JE SUIS INTOLÉRANTE

Por Danilo Rizzo – Acompanhei com calma os acontecimentos relacionados ao fatídico atentado à equipe do Charlie Hebdo, em especial a repercussão, até porque, espetáculo midiático por espetáculo midiático, ainda fico com 11/09. Mas o que se faz e se diz após o fato, é o que realmente o torna algo notório e histórico.
Eu sou avesso a teorias de conspiração. Não acho que as pessoas perdem tanto tempo pensando na vida dos outros e, por tanto, tendo a interpretar o que ocorreu em Paris no último dia 7, como algo ‘corriqueiro’ na história humana. Primeiro por que – e me permitam expor minhas limitações – não vejo que o atentado dos irmãos Kouachi tenham cunho de cerceamento à liberdade de imprensa. O vandalismo à sede da revista Veja, no ano passado, me transmitem mais a sensação de agressão à liberdade de imprensa. Depois, por que aos grupos radicais e terroristas do oriente médio estão por aí desde sempre, e há muitos mais atentados ocorrendo pelo mundo, dos quais o ocidente pouco se ocupa, pouco repercute. Minha percepção é que as provocações publicadas pelo periódico francês ao longo dos anos, encheu o saco de algum motherfucker da Al-Qaeda, e é assim que eles resolvem as coisas.
Foto: vanityfair.fr
Razões todos nós temos, seja para provocar o bom senso do homem médio, como se propunha a linha editorial do Charlie Hebdo, seja para abater a tiros alguém que lhe tenha ofendido, como fizeram os ‘soldados de Alá’. E precisamos ser sensíveis em entender que, apesar da desproporcional e intolerante reação dos irmãos Kouachi, houve clara e contínua provocação pública. Não sou a favor do que foi feito, mas não sou a favor do que foi feito por nenhum dos lados da história. Matar não é solução para nada, e assim como ofender a crença e convicção de alguém não é minha praia também. Não estou sendo politicamente correto, apenas digo que eu não concordo com as condutas, e cometo o sacrilégio de colocar-me na posição das pessoas. Como eu agiria sendo ‘coagido’ a produzir material ofensivo aos muçulmanos? E faço uso da palavra coação pelo que li nesta entrevista de Henri Roussel, um dos fundadores do jornal francês. E como eu agiria sendo um muçulmano relacionado com um dos mais pulsantes grupos terroristas da história, lendo provocações e agressões à minha fé e a meu messias?
As mortes sujas como usualmente são as resultantes dos atentados terroristas no ocidente, transmitem ao público em geral sensações de desconforto. Claro, ninguém quer assistir um policial caído na calçada e levando um tiro na cabeça, enquanto jantam confortavelmente assistindo a CNN ou o Jornal Nacional. Sensações que motivaram milhões de pessoas que se quer sabiam que na França havia um jornal chamado Charlie Hebdo, a abraçar sua dor, carregar a bandeira de violação à liberdade de expressão e agressão à livre imprensa. A população mundial colocou #jesuisCharlie como a hashtag mais compartilhada mas, de fato, poucos sabem quem assinava as publicações do Charlie Hebdo, poucos sabem o que prega a religião muçulmana, poucos sabem que a Nigéria vive anos infernais, com os mortíferos ataques do Boko Haram... Aliás, elas nem sabem o que é Boko Haram.
A vida é ação e reação, é um exercício ininterrupto de tolerância. Uns provocam, outros agridem, e poucos, poucos mesmo, interrompem essa sequência destrutiva. Mas a história da humanidade é assim e, por questões evolutivas, estou convicto que continuará assim por muito tempo. Respeito resolveria isso. Um pequeno passo seria entender que se você é cristão e fala mal do judaísmo, você não está sendo um bom cristão. Entender que não devemos agredir por medo de sermos agredidos, e respeitar o que o outro pensa, diz e faz, mesmo que você não concorde, também facilitariam as coisas.

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