HUMAN FACTOR EPISÓDIO 9 – NUNCA FRITE BACON PELADO

The Nasty Bits
The Nasty Bits (Photo credit: Wikipedia)
Por Danilo Rizzo – Meu sobrenome entrega a origem de minha família, e como todo italiano – ou descendente – que se preze, eu sou apaixonado por comida. Por preparar e por comer. Tenho inúmeros livros nas prateleiras da cozinha, adoro um bom programa de culinária na Tv. Da alta à baixa gastronomia, assisto a todos eles. De Jamie Oliver à Epic Meal Time, passando pelo Chef de Segunda, no canal ChefTv, e as premiações da dupla Alex Atala e Helena Rizzo. Mas dentre todos esses, chefs da Tv à cabo, o que mais me afeiçoo é Anthony Bourdain.
Anthony é norte americano, nascido em Nova Iorque e cria em Nova Jersey. Formou-se na Culinary Institute of America, em 1978, e sua projeção se deu por conta dos livros, especialmente ‘Kitchen Confidential’, ‘A Cook's Tour’ e ‘The Nasty Bits’, recomendo todos. Também foi colunista de incontáveis publicações periódicas na língua inglesa. Do sucesso literário para a Tv foi um pulo. Já ouvi manifestações um tanto ‘elogiosas’ dirigidas ao Anthony, coisas como escroto, arrogante, sujo, asqueroso, nojento, etc. E, convenhamos, nada disso parece ser demérito para Anthony, afinal ele é americano, aparentemente daqueles que efetivamente não está nem aí para nada, um disparador compulsivo de foda-se. Mas há algo além no que ele fala e escreve, algo mais sutil. Algo que podemos captar quando ele diz que não precisa concordar com alguém para gostar ou respeitar essa pessoa, ou quando profetiza que ninguém consegue fazer amigos recusando comida.
Bourdain está sempre viajando, em localidades ora paradisíacas, ora de pobreza epidêmica, mas em qualquer que seja o lugar, ele é ele mesmo, se comporta do mesmo jeito, fala do mesmo jeito, e jamais recusa um prato de comida. Se conecta aos lugares de forma orgânica e torna a nossa experiência, enquanto telespectadores, algo igualmente natural. Ele costuma dizer que: “A comida é tudo o que somos. É uma extensão do sentimento nacionalista, étnico, de sua história pessoal, de sua província, de sua região, de sua tribo, de sua avó. É inseparável do que de fato somos.”. E, francamente, ele não está errado, está? Eu tenho um orgulho impronunciável da culinária italiana e, via de regra, em minha casa come-se mais pasta que arroz e feijão.
Engraçado que Anthony, com suas frases, me faz lembrar meu avô. Bourdain já disse que ‘a forma como você faz uma omelete diz muito sobre seu caráter’. Frase que me remete ao histórico ‘nunca confie em alguém que não coma pizza’, profetizado por meu avô. O conselho mais pertinente do chef e autor, para mim, é o de que ‘nunca devemos fritar bacon estando pelados’. Simplesmente brilhante!
Anthony Bourdain chafurda na cultura local, nas vielas, nos botecos, vive e como se fosse um nativo, e isso tem muito mérito. Não sei ele é meu preferido por ser americano, ou por ser sincero, ou por ser escroto, ou por nunca dizer não quando alguém lhe oferece um prato de comida. Talvez, provavelmente, seja a combinação de tudo isso, na medida certa, como é o segredo de um bom prato de comida, o equilíbrio de seus ingredientes.

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