DEPOIS DA BONANÇA, VEM A TEMPESTADE

foto: sentidounico.org
Por Gerson Moyses - A Copa do Mundo gerou um tipo de hipnose na sociedade brasileira. Todos nós ficamos meio que anestesiados e entorpecidos pelo espetáculo que o midiático megaevento da FIFA nos proporcionou. Esquecemos da corrupção, da economia e da péssima qualidade dos serviços públicos, e prova disso é que numa pesquisa eleitoral feita em 2/7/14 a intenção de voto para Dilma subiu quatro pontos. Esquecemos da crise da água e da energia elétrica, mesmo sem cair uma gota de água em mais de vinte dias na capital Paulista, e aumentamos o consumo desses itens. As manifestações, os protestos, as ocupações e os consequentes ataques ao patrimônio público e privado, quase que diários na cidade de São Paulo, rarearam. As férias escolares foram adiantadas e por isso trânsito fluiu como há muito não se via, exceto claro, nos dias de jogos. Os turistas brasileiros e estrangeiros ficaram felizes e satisfeitos com a organização do evento e com a recepção nas cidades sede, e assim, as metas de receita foram superadas em muito (no Rio de Janeiro esperava-se uma receita de R$ 1 bilhão, mas o resultado foi quatro vezes maior). Vivemos um mês de bonança, e com muito ‘pão e circo’!
Mas no dia da derrota da seleção brasileira para a Alemanha, começamos a acordar do belo sonho. Após o resultado de 1x7, uma garagem de ônibus da região metropolitana de São Paulo foi atacada e cerca de vinte veículos foram incendiados. Imediatamente algumas empresas de ônibus recolheram suas frotas e a população sofreu com a falta de transporte público. Na semana após o encerramento da Copa, as manifestações, os protestos, as ocupações e os consequentes ataques ao patrimônio público e privado, começaram a voltar à baila. Na economia, o Banco Central apontou que pode ter havido recessão no segundo trimestre do ano com PIB recuando 0,18% em maio. Como reflexo a previsão do crescimento da economia para 2014 chegou a 0,7%. E mesmo com pífio desempenho econômico, o Copom manteve os juros em 11%, pois a inflação ainda é uma ameaça. O efeito desse mau desempenho da economia foi o menor nível de geração de empregos para o mês de junho desde 1998, segundo dados do Caged. E ainda mais: os reservatórios estão cada vez mais secos, devido à estiagem, aumentado o risco de crise de energia elétrica e de água. O resultado: na última pesquisa eleitoral (de 18/7/14) Dilma caiu dois pontos e há empate técnico com Aécio num possível segundo turno. 
As recentes convenções partidárias definiram os candidatos para as eleições de outubro, e a campanha (ou a guerra) eleitoral começou. Os candidatos farão de tudo para manter ou conquistar o poder. E apesar das urgentes demandas da sociedade por um País melhor, o que se vê é mais do mesmo: o governo com um discurso de valorização das realizações do passado e com promessas vagas de que vai fazer mais, e a oposição também genérica e com medo de se confrontar com os programas do atual governo (mesmo que tenham tido resultados inócuos). Ninguém tem a coragem de discutir os grandes problemas nacionais. Temo que após as eleições o que está ruim pode piorar. Os ajustes na economia serão inevitáveis, qualquer que seja o vencedor, e disso deverá ter impacto negativo no PIB e na geração de empregos. E isso será motivo para mais manifestações, protestos, ocupações e os consequentes ataques ao patrimônio público e privado. E para completar, os racionamentos de energia elétrica e de água devem acontecer, pois a recomposição dos reservatórios será demorada.
Preparem os guarda-chuvas, pois acabou a bonança e deve vir tempestade por aí.

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