MÚSICA E HISTÓRIA, EPISÓDIO 8 – O ÓDIO ME COLOCOU NA PRISÃO. O AMOR VAI ME TIRAR DELA

foto: graphicwitness.com
Por Danilo Rizzo – Gosto de histórias reais, de pessoas de verdade, é assim com os filmes, com os livros,plot twist é maior, mais significativo, mais emocionante, mais pedagógico. Em nossa história, essa reviravolta, ou justiça, demorou cerca de 20 anos.
com os games. E quando a história mostra um ambiente hostil, desfavorável, preconceituoso, o esperado
Rubin Carter nasceu em 1937 em Clifton, Nova Jersey. Sobreviveu quando criança, nas ruas de Paterson, no mesmo estado, e aos 12 anos de idade, conheceu a cadeia pela 1ª vez, preso por ter agredido com faca um homem da sociedade local. Sua justificativa, de que o homem atacado tratava-se de um pedófilo que tentara aliciar um de seus amigos não colou, e por seis anos, Carter ficou preso. Fugiu em 1954, e da prisão foi direto para as forças armadas, onde teve contato com o boxe. Pelo exército, ele conquistou dois cinturões de pesos leves e retornou a cidade onde cresceu em 1956, quando foi preso para cumprir os 10 meses que restavam de pena. Em 1957 foi preso novamente. Passou quatro anos na penitenciária de segurança máxima de Trenton sob a acusação de roubo de uma bolsa, o qual sempre alegou inocência.
foto: angam.ang.univie.ac.at
Em 1961, saiu da prisão e voltou ao boxe. O sucesso foi imediato, e em 1963, já conhecido com Hurricane, conquistou o 1º de seus dois títulos mundiais de peso médio. Seu sucesso parecia incomodar seus desafetos locais, e Carter voltou a ser preso em 1966, desta vez sob a acusação de triplo homicídio. Junto com ele também foi preso John Artis, que dirigia o carro de Rubin depois de uma noite de festa. O curioso de sua prisão é que a principal alegação é de que ele e Artis combinavam com a descrição dos criminosos de uma das testemunhas do crime: “Dois negros em um carro branco”. Um ano depois, Carter e Artis foram julgados culpados e condenados à prisão perpétua. Apelações negadas após apelações negadas fizeram com que Hurricane permanecesse preso ano após ano. Durante anos, diversas celebridades, pró Carter, se manifestaram todavia sem efeito prático. Mas sua vida mudaria em 1980.
Carter, convicto de sua não culpa, recusava-se a comportar-se como um condenado. Criou sua própria rotina da cadeia, não usava as mesmas roupas dos demais detentos, estudou direito, leu inúmeros livros, e escreveu suas memórias. Seu livro, 'O 16º Assalto', chegou às mãos de Lazarus Martin, um jovem nova-iorquino que vivia no Canadá, adotado por uma família alternativa. O jovem, tocado e indignado pela história de Carter, convenceu os canadenses a ajudar o boxeador. A família procedeu investigações particulares, colheu depoimentos de testemunhas jamais ouvidas, colheu novas provas, e reabriu o caso, conseguiu que Carter e Artis tivessem direito a um novo julgamento. Diante das novas provas, não restou ao juiz reverter as penas e tornar os condenados, homens livres. Depois da liberdade, Carter mudou-se com Lazarus e família para o Canada, onde trabalhou em prol de vítimas de erros da justiça, e em 1993 recebeu o cinturão de campeão honorário do Conselho Mundial de Boxe.


A história de Rubin ‘Hurricane’ Carter foi retratado no filme ‘Hurricane’, de 1999, onde Denzel Washington interpreta, ou encarna, Rubin Carter de forma irretocável. Vale dizer que o ator foi indicado ao Oscar por sua interpretação, perdendo a estatueta para Russll Crowe e ‘Gladiador’. Confesso que vejo grande injustiça nisso, assim como, alguns anos depois, quando Denzel conquistou a estatueta por ‘Dia de Treinamento’, entendo que mais merecido seria premiar Crowe por sua interpretação em ‘Uma Mente Brilhante’.
Rubin ‘Hurricane’ Carter faleceu no último dia 20/04, aos 76 anos, em Toronto, vítima de câncer na próstata.
Como a ideia é relacionar uma música à história contada, compartilho o clipe de Hurricane, de Bob Dylan, feita especialmente para o boxeador, em 1975. E toda nossa respeito ao homem e sua história.

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