HUMAN FACTOR, EPISÓDIO 7 - NEVER STOP RACING

foto: telegraph.co.uk
Por Danilo Rizzo – Sou fanático por automobilismo, e se há algo que os pilotos têm que conviver é o risco de acidentes. São inúmeros os que abandonaram a carreira, ou perderam a vida numa pista de corridas. Nossos três campeões mundiais de Fórmula 1, por exemplo, foram vitimados por graves acidentes, que, para todos, deram termo à suas carreiras. Em 1992, Nelson Piquet teve os pés moídos durante os treinos para as 500 Milhas de Indianápolis. Dois anos depois foi a vez de Ayrton Senna perder a vida na curva Tamburello. E por fim, em 1996, Emerson Fittipaldi, no circuito oval de Michigan, sofreu mais um sério acidente e nunca mais correu profissionalmente. Mas não vou falar de nenhum deles, mas de um piloto que resolveu confrontar sua realidade, e se tornou um dos maiores exemplos que tenho na vida.
Italiano de Bologna, Alessandro Leone Zanardi tornou-se conhecido de parte do público brasileiro em 1991, quando ingressos na Fórmula 1 através da equipe Jordan. Antes disso, teve um desempenho satisfatório na extinta Fórmula 3000. Na categoria máxima do automobilismo, Zanardi nem atingiu o patamar de satisfatório. De 1991 a 1994 ele conquistou apenas 1 ponto, no GP Brasil de 1993, a bordo de uma Lotus. Em 1996 migrou para a CART (ou Fórmula Indy) e o sucesso foi imediato. Foi 3º colocado no ano de estreia, e emplacou o campeonato nos dois anos seguintes. Seu sucesso nos Estados Unidos reabriu as portas para a Fórmula 1, e em 1999, pela Williams, ele retornava à categoria máxima. Assim como no início daquela década, seu desempenho foi medíocre, e na temporada seguinte, dispensado pela equipe britânica, Alex Zanardi deixou de fazer o que mais gostava.
Depois do ano sabático, em 2001, aceitou o chamado de Morris Nunn e voltou aos Estados Unidos, e é a partir nessa decisão que começa uma história de superação vista poucas vezes. Naquele ano, num domingo 15 de setembro, Zanardi corria a etapa da Alemanha da CART, no circuito oval de Lausitz, quando sofreu o derradeiro acidente de sua carreira. Na batida, o italiano teve as duas pernas amputadas, arrancadas do resto de seu corpo junto com ¾ de seu sangue. Naquele momento, o que passou pela cabeça de todos, e claro que pela minha, pois fui testemunha televisiva do acidente, não eram exatamente as consequências físicas da batida, mas se Zanardi estava ainda vivo. O piloto foi resgatado dos destroços do carro, hospitalizado, teve mais frações de suas pernas amputadas numa cirurgia de mais de 3 horas.


Meses se passaram até sua recuperação, e, com o auxilio de próteses, Alex não só voltou a andar (amparado por muletas), mas a competir. Esporadicamente fazendo corridas, desenvolvendo adaptações para acelerador, freio, embreagem, etc, Zanardi voltou a correr. Em 2005 era apresentado como um dos pilotos oficiais da BMW no campeonato mundial de carros turismo (WTCC). Equipe e categoria onde correu por cinco temporadas (2005-09), conquistando quatro vitórias. Enquanto ainda praticava o automobilismo, em 2007, o piloto italiano passou a praticar o paraciclísmo. Em 2010, já aposentado das pistas de corrida, venceu a maratona de Roma e em 2011, venceu a maratona de Nova Iorque. Em 2012, nas Paralimpíadas de Londres, conquistou duas medalhas de ouro e uma de prata, sempre no paraciclísmo. E para esse ano, Zanardi anunciou seu retorno às pistas de corrida. Vai reeditar sua parceria com a BMW, dessa vez na GT Series.
De fato, só o relatado por mim até aqui é motivo suficiente para admirarmos a história de superação de Alex Zanardi, afinal, um bicampeão do automobilismo e medalhista olímpico merece nossa reverência. Mas o que mais me chama a atenção nessa trajetória, e que o coloca num estágio superior, é o fato dele, diante de tudo o que lhe aconteceu, jamais abandonar seu sorriso, sua alegria, sua obstinação, seu talento, seu amor à vida. Esta tudo ali, no olhar dele. Alessandro Zanardi é mais um exemplo para mim, de como a vida deve ser pensada, tocada. Com um sorriso no rosto, e a despretensão de mostrar ao mundo que seus problemas, suas dificuldades, por maiores que sejam, simplesmente não são nada.

Comentários