“A VIOLÊNCIA É TÃO FASCINANTE...”

arte: pablo.deassis.net.br
Por Gerson Moyses - Vivo na cidade de São Paulo, e percebo que a sensação de insegurança da população vem aumentando com uma velocidade nunca vista. Cada vez mais tenho notícias de parentes, amigos e conhecidos que sofreram algum tipo de violência: desde tentativa de assalto até situações de maior risco como sequestro relâmpago e invasão de domicílio. A violência está cada vez mais próxima, gerando medo, insegurança, mortes e prejuízos econômicos e sociais.
Apresento alguns números de uma recente pesquisa mundial sobre a violência. 
A cidade mais violenta do mundo é San Pedro Sula, em Honduras, onde em 2013 houve 187 mortes para cada 100 mil habitantes. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), quando há mais de 10 homicídios por 100 mil habitantes, considera-se que há uma epidemia de violência. Em San Pedro Sula, uma pessoa morreu assassinada a cada duas horas. A maioria das vítimas tinha entre 15 e 22 anos. 
No Brasil a situação não é diferente. Só no ano passado, quase 43 mil pessoas foram assassinadas no País – é uma situação comparável a uma guerra. Dentre as 50 cidades mais violentas do mundo, 16 estão no Brasil. Vejamos as principais:
  • Maceió: foi considerada a quinta cidade mais violenta do mundo, e primeira do Brasil. Lá houve 79 homicídios para cada 100 mil habitantes. Números do governo do estado mostraram que a maioria das vítimas de homicídios em Maceió foi de jovens, com idade entre 18 e 29 anos, principalmente na periferia da cidade.
  • Fortaleza: uma das 12 cidades-sede da Copa do Mundo e palco do segundo jogo do Brasil na competição foi considerada a sétima cidade mais violenta do mundo e a segunda do Brasil, com 72 assassinatos por 100 mil habitantes. Só no carnaval de 2014, 25 pessoas foram assassinadas em Fortaleza.
  • João Pessoa: foi considerada a nona cidade mais violenta do mundo e a terceira do Brasil. Houve 66 mortes para cada 100 mil habitantes. Como em Maceió e Fortaleza, jovens da periferia foram as principais vítimas.
Em todos os casos apresentados, os principais motivos para as mortes foram: o tráfico de drogas, os crimes passionais, a intolerância e a ação de milícias e de grupos de extermínio.
Além do enorme custo social, a violência causa também importantes custos econômicos. Segundo estudos do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) esse custo é quase o dobro de tudo o que se gasta em saúde pública no Brasil. A violência faz o brasileiro gastar bilhões de reais em segurança privada, seguros, despesas com saúde. Esses estudos ainda mostraram que, somados, esses gastos chegaram a R$ 207 bilhões em 2013, o que equivale a 5% do PIB brasileiro.
A situação gera também importantes prejuízos econômicos. A insegurança faz com que as pessoas evitem sair de casa, e isso faz com que reduzam o consumo de bens e serviços. O resultado: empreendedor desestimulado (ou falido), redução de investimentos, perda de vagas de emprego e redução de impostos. Vou citar um exemplo pontual, mas que ilustra perfeitamente essa situação: em várias cidades os frequentes arrastões em bares e restaurantes fizeram com que o movimento nesses estabelecimentos diminuísse consideravelmente.
Outro importante prejuízo para o futuro do País, bem mais difícil de ser mensurado, é a perda de capital humano. Vimos que a maioria das vítimas são os jovens. Assim, um rapaz que está no final do ciclo escolar e prestes a se inserir no mercado de trabalho tem a trajetória interrompida pela morte violenta e precoce, deixando de produzir e consumir. 
São várias as causas para essa situação quase insustentável. A impunidade, sem dúvida, é a principal delas. Na maioria dos casos de violência os criminosos nem se preocupam em esconder o rosto. A impunidade é a regra, e um criminoso só é preso se der muito azar. Vejamos o exemplo do estado do Ceará: hoje há 58 mil foragidos, 11 mil deles acusados por homicídio. Há mandados de prisão que deveriam ter sido cumpridos em 1991, ou seja, 23 anos engavetado! Talvez isso aconteça devido ao reduzido efetivo da polícia, pela falta de políticas públicas eficientes, pela corrupção e pelos problemas de gestão do sistema.
Por tudo isso, chego à infeliz conclusão de que ser vítima de algum tipo de violência é só uma questão de tempo, e que se safar dessa situação, é uma questão de sorte. Estamos à mercê do acaso, apesar das (inúteis?) medidas que consideramos preventivas.
Veja abaixo a lista das 50 cidades mais violentas do mundo:

Fonte: Conselho Cidadão Para a Segurança Pública e Justiça Penal do México (http://jornalggn.com.br/noticia/o-ranking-das-cidades-mais-violentas-do-mundo)

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