HUMAN FACTOR, EPISÓDIO 5 - O TRIUNFO DE UMA SONHADORA

Por Danilo Rizzo - A vontade de progredir, a ambição e a percepção de capacidade, podem ser determinantes para o raiar de um talento emergente, mesmo quando as condições são absolutamente adversas. Essa é uma das conclusões que podemos chegar quando conhecemos a história de Tererai Trent.
foto: savethechildren.com
Tererai era uma jovem pastora, pobre e semianalfabeta do Zimbábue rural. Vivia miseravelmente numa cabana, sem água corrente ou luz elétrica, e não foi autorizada a ir para a escola quando criança devido à pobreza, mas também por ser do sexo feminino. Apesar das condições adversas, seu irmão Tinashe, teve a oportunidade de frequentar a escola, nem as súplicas, choros e implores serviram para que seu pai a deixasse acompanhar o irmão, um dia que fosse, até a escola. Tererai, oportunista, passou a folear os livros que o irmão utilizava nas aulas, e assim aprendeu a ler e a escrever. Mais tarde, Tinashe, indiferente aos estudos, permitiu que Tererai fizesse seu dever de casa. Notando uma melhora substancial e injustificada na qualidade do dever de casa, a professora de Tinashe logo descobriu a farsa, e Tererai ganhou sua primeira aliada. A educadora, insistentemente, conseguiu que o pai deixasse Tererai frequentar as aulas. Mas a alegria de Tererai durou pouco, até seu pai aceitar o dote de uma vaca, e permitir que sua filha casasse com um jovem da aldeia. Aos 18 anos de idade, Tererai era mãe de três filhos, sem um diploma do ensino médio, e sofria agressões físicas do marido quanto expunha sua vontade de estudar.
Em 1991, Jo Luck, presidente executiva da organização Heifer International, visitou a aldeia onde Tererai morava, e perguntou a um grupo de mulheres locais quais eram suas esperanças e sonhos. Tererai era uma dessas mulheres, e quando questionada respondeu: “O meu nome é Tererai e quero ir para a América, para estudar”. Ainda naquele dia, a jovem recebeu o incentivo de sua mãe: “Ela olhou para mim e disse: 'se deseja essas coisas, pode alcançá-las’. A mãe de Tererai disse-lhe que escrevesse os seus sonhos e os enterrasse, pois se realmente acreditasse neles, eles cresceriam cada vez mais. Que cobrisse esses sonhos com uma pedra, pois essa pedra chamá-la-ia, onde quer que estivesse no mundo. “ Serás a última pessoa, a que quebrará este círculo de pobreza”, disse-lhe a mãe. 
Passo a passo, Tererai cumpriu seus sonhos. Em 1998 mudou-se para Oklahoma com o marido e os cinco filhos. Três anos depois, tirava a licenciatura em Agricultura. Obteve o mestrado em 2003, mesmo ano em que marido foi deportado por agressão. Ela se casou novamente, com Mark Trent, um patologista de plantas que conheceu na Universidade Estadual de Oklahoma. Em dezembro de 2009, a tese sobre programas de prevenção de HIV/AIDS para mulheres e meninas na África subsaariana deu a Tererai seu doutorado pela Western Michigan University
Tererai Trent, por sua jornada, tornou-se uma fonte de inspiração para toda a sua aldeia, que passou a ajudar seu desenvolvimento através da construção de uma escola. Sua história de vida foi destaque no livro Half the Sky, cujo um trecho foi publicado pelo The New York Times Magazine. Posteriormente, Oprah Winfrey, conhecendo a história contada no livro enviou uma equipe com Tererai, de volta ao Zimbábue, para desenterrar o pedaço com seus objetivos. A relação com a comunicadora geraria novos frutos quando, em maio de 2011, Oprah Winfrey revelou que Tererai Trent era uma de suas convidadas favoritas de todos os tempos, e doou USD 1,5 milhões para a construção da tão perseguida escola em sua antiga aldeia no Zimbabwe.
A história de Tererai prova como uma pessoa, que parece condenada a um destino, pode mudar a sua vida. Que com sacrifício, abnegação e determinação podemos mudar qualquer realidade. Que, ainda nos dias de hoje, a educação é o único caminho seguro, inclusive como forma de libertar populações da miséria e da opressão.

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