A CRISE DA MÍDIA

foto: pagina13.org.br
Por Gerson Moyses - “Estamos vivendo tempos de angústia e incerteza”. A explosão do fanatismo religioso, da intolerância política e das agressões à natureza, além do abandono de valores morais, tem gerado crises econômicas, políticas e sociais em todo o mundo. Um dos muitos efeitos resultantes é a crise da mídia, assunto que tratarei nesse artigo.
Para começar, vejamos algumas notícias recentemente publicadas:

“Estadão pode vender sua sede: conglomerado de mídia recebeu autorização de acionistas para captar mais de R$ 260 milhões com a venda de oito imóveis, incluindo o bloco de prédios na Zona Norte de São Paulo, e empréstimos ou financiamentos. Uma possibilidade para levantar recursos é também a venda de concessões de rádio AM e FM e de TV da Rádio Eldorado” (26/8/13).
“O Grupo Abril anunciou o fim de quatro publicações: Bravo!, Gloss, Alfa e Lola. Além das revistas, a MTV Brasil também encerrará suas atividades em setembro. Há boatos que Playboy, Capricho e Contigo!, também poderão desaparecer” (01/8/13)

Para não enviesar a análise, vou apresentar três hipóteses, bem distintas, como especulações relacionadas a essas decisões:
Hipótese 1: Talvez a principal causa dessa crise seja o advento da Internet. A produção e o acesso eletrônico à informação tem muitas vantagens sobre os veículos tradicionais, tais como: o baixo custo, a enorme diversidade de opções de conteúdo e de plataformas para a disponibilização, a possibilidade de acessar conteúdos a qualquer hora e local, a possibilidade do compartilhamento da informação, entre outros. Esse artigo é um exemplo dessa mudança: há alguns anos você só poderia lê-lo num jornal, revista, livro ou panfleto, impressos em papel. O tradicional modelo de negócio dessas empresas talvez não seja mais sustentável, e isso se repete em outros países. Os grandes jornais vem perdendo leitores no papel, mas não param de ganhá-los na Web (43 milhões de internautas leem o New York Times). Um outro dado interessante é que quando os sites dos grandes jornais passaram a ser pagos (como o Times), a visitação despencou de 22 milhões para 200 mil. O resultado mais imediato, principalmente no Brasil: a demissão de trabalhadores e a precarização dos empregos desse setor.
Hipótese 2: Inicialmente, vamos observar alguns dados publicados na matéria original sobre a venda da sede do Estadão: “no balanço de 2012, o grupo Estado registrou receita líquida de R$ 714,5 milhões, alta de 2% na comparação com os R$ 700,7 milhões de 2011. O lucro líquido atribuível aos acionistas ficou em R$ 38,5 milhões. A dívida líquida passou de R$ 81 milhões em 2011 para R$ 77 milhões no ano passado”. Que crise é essa? No balanço patrimonial o grupo teve lucro e a dívida diminuiu, no entanto, estão querendo vender ativos. Há uma linha de análise que diz que essas empresas tem vínculos com o atual governo estadual. E com a mudança no comando da prefeitura de São Paulo em 2013, e a possível alteração no comando do governo, após as eleições de 2014, essas organizações seriam muito prejudicadas. Assim, a solução seria vender os ativos para diminuir o risco no futuro.
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Hipótese 3: Ventila-se que com as possíveis vitórias dos partidos de esquerda, há o risco cada vez maior de controle da imprensa (como já acontece na Argentina e na Venezuela). Vejamos o que está sendo proposto no Equador: “O presidente Rafael Correa anunciou hoje (19/8/13) que pretende fazer uma consulta popular no país sobre a eliminação dos jornais diários impressos para evitar a derrubada de árvores”. Provavelmente mais um país controlando a imprensa, já que essa ‘preocupação ambiental’ não convence, pois as mídias eletrônicas também causam impactos ambientais.
Sou favorável à total liberdade de pensamento e de expressão. Não acho que deva haver nenhum tipo de controle oficial da imprensa e da mídia, e vejo como muito positiva a descentralização e a disseminação total da informação. Quem decide o que quer consumir é o cidadão - ele deve escolher qual conteúdo que acha mais adequado para si e para sua família, e acessá-lo da forma que lhe for mais adequada (inclusive o conteúdo impresso em papel). E essa decisão que deve estimular as empresas privadas de mídia a investir e correr riscos (como toda a empresa privada).
Vivemos a era da informação e do conhecimento. E se quisermos um desenvolvimento sustentável para o País, temos que estimular a oferta abundante de conteúdo e a análise crítica de quem o consome, para a geração de conhecimento. A aplicação prática desse conhecimento deve contribuir para o aumento da produtividade e da competitividade do País, e para bem estar da população.

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