O BRASILEIRO NÃO LÊ. SERÁ?

foto: leioelogoexisto.blogspot.com
Danilo Rizzo - Provavelmente uma das afirmações que mais ouvi desde criança é que 'o brasileiro não lê', talvez perca para 'o Brasil é o país do futuro'. Sinto que leio pouco, mas, apesar de contraditório, sempre me achei um ponto fora da curva a esse respeito, pois desde a época de adolescência há um livro habitando meu criado mudo. Até falei um pouco sobre isso no passado, no artigo intitulado VEM CÁ, EU TE CONHEÇO?. Creio que meu habito de leitura tenha vindo por influência dos meus pais, professores, e especialmente meu pai lia de tudo, o tempo todo. Também fui condicionado na época de faculdade, sou advogado, e durante a graduação o porta-malas do meu carro parecia mais uma prateleira de biblioteca jurídica.
Não sei bem porque tenho a sensação que leio pouco, talvez pelo fato de ter amigos que leem demais, ou por não consideram nessa conta as leituras de conteúdos da internet. Ou talvez seja por influência dessa bendita frase que ouço desde criança, de que brasileiro não lê. Aparentemente essa questão não incomoda só a mim e, numa dessas leituras de textos publicados na rede mundial de computadores, encontrei o desabafo do Danilo Venticinque, editor de livros da Época, justamente sobre o tema. O texto é ótimo, me senti representado pelas palavras do autor (não sei se influenciado pela coincidência dos nomes, mas...), e gostaria de compartilhar alguns trechos dele com vocês. Para a integra da crônica, basta clicar aqui.
Depois do desabafo inicial o autor apresenta diversos argumentos que contradizem a tal afirmação, os quais reproduzo abaixo:
  • (...) a quantidade de livros produzidos no Brasil só cresceu nos últimos anos. (...) Seriam aproximadamente 2,5 livros para cada brasileiro, se o brasileiro lesse.
  • (...) o país é o nono maior mercado editorial do mundo, com um faturamento de R$ 6,2 bilhões.
  • (...) desde 2004 o preço médio do livro caiu 40%, descontada a inflação. Entre os motivos para a queda estão o aumento nas tiragens, o lançamento de edições mais populares e a chegada dos livros a um novo público. 
  • (...) os poucos (brasileiros) que leem, é claro, são os brasileiros ricos. Mas a coleção de livros de bolso da L&PM, conhecida por suas edições baratas de clássicos da literatura, vendeu mais de 30 milhões de exemplares desde 2002.
  • (...) vez ou outra aparecem best-sellers por aqui. Esse é o nome dado aos autores cujos livros muitos brasileiros compram e, evidentemente, não leem. Uma delas, a carioca Thalita Rebouças, já vendeu mais de um milhão de exemplares. (...) Outro exemplo é Eduardo Spohr, que se tornou um fenômeno editorial com seus romances de fantasia. Ele é o símbolo de uma geração de novos autores do gênero, que escrevem para centenas de milhares de jovens brasileiros que não leem.
  • (...) mesmo se lesse, (o brasileiro) só leria bobagens. Mas, há poucos meses, um poeta estava entre os mais vendidos do país. Em algumas livrarias, a antologia Toda poesia, de Paulo Leminski (1944-1989), chegou ao primeiro lugar. Ultrapassou a trilogia Cinquenta tons de cinza, até então a favorita dos brasileiros (e brasileiras) que não leem.
Além desses argumentos, no mínimo relevantes, Venticinque lembra em números a presença maciça de leitores em eventos como o Fórum das Letras de Ouro Preto, a Feira do Livro de Ribeirão Preto-SP, e a imperdível Festa Literária Internacional de Paraty. Eu citaria ainda, e sem medo de errar, a muvuca que é Bienal do Livro de São Paulo.
Basta observarmos rapidamente uma livraria para percebermos que existe um consumo frequente de livros. Claro que não somos os maiores consumidores, mas consumimos bastante, e olhando o lado bom desse mercado, há espaço para crescimento. Minha filha de 7 anos, que estuda em escola particular, quinzenalmente traz para casa um livro da biblioteca do colégio, o qual é religiosamente lido pelo menos duas vezes antes de ser devolvido. Essa iniciativa da escola da minha filha nada mais é que criar ou fortalecer o habito de ler, colaborada por mim e por minha esposa que, com mais ou menos frequência, estamos sempre lendo algo. Há evidências, portanto, de que a afirmação do início do texto não está tão correta. Não tenho duvidas que o caminho a ser percorrido é longo, bastante longo, mas como disse, me parece mais como uma oportunidade, em todos os sentidos, mercadologicamente e em relação ao nosso desenvolvimento pessoal. Nunca lemos nada em vão, sempre aprendemos algo novo ou aprimoramos algo que já dominamos. Talvez realmente seja hora de mudarmos o discursos, do famigerado ‘o brasileiro não lê’ para ‘o brasileiro está começando a ler’.

Comentários

  1. E ainda não estão computados corretamente os dados digitais. Eu compro em média um livro a cada 60 dias no Kindle.

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