A LEI

Por Danilo Rizzo
foto: finoschese.wordpress.com
Aprendemos (ou deveríamos aprender) cedo na escola as tais três leis de Newton, publicada pelo físico e matemático britânico em 1687. A primeira das leis é, como conhecemos, o princípio da inércia, ou seja, um objeto que está em repouso ficará em repouso a não ser que uma força resultante aja sobre ele, assim como um objeto que está em movimento não mudará a sua velocidade a não ser que uma força resultante aja sobre ele. A segunda lei de Newton é o chamado princípio fundamental da dinâmica, estabelece que a mudança de movimento é proporcional à força motora imprimida, e é produzida na direção de linha reta na qual aquela força é imprimida. Concordo, ficou mais complexo, mas o que interessa para esse artigo é a próxima lei, a terceira lei de Isaac Newton, onde definiu que para toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade.
Em algum momento do post intitulado Música e História, Episódio 3 – Sater, Teixeira, e o Segredo de Tudo, me declarei seguidor da doutrina espírita, e nesse ambiente, um dos temas mais estudas, pesquisados, escritos, por mais inusitado que pareça, é a terceira lei de Newton, também conhecida como lei de ação e reação. Na verdade Allan Kardec, o codificador da doutrina espírita, não fez uso da Lei de Newton, mas sim, do axioma: não há efeito sem causa. Porém. de forma ortodoxa e indiscriminada, esse princípio tem sido aplicado para justificar a razão do sofrimento do Espírito reencarnado em qualquer situação, e até entendo tal aplicabilidade indiscriminada na medida em que facilita o entendimento. De qualquer forma, não quero aqui discutir a lei de Newton ou o rol de princípios que regem o Espiritismo, mas sim, compartilhar um momento do meu fim de semana.
Nos últimos dias de junho, estive com a família na aprazível cidade de Jaú, na região central do Estado de São Paulo, anteriormente referenciada como grande produtora de café, e hoje conhecida como a capital do calçado feminino. O município não é grande, tem população de aproximadamente 130 mil habitantes, possui o maior shopping de calçados e artefatos de couro da América Latina, e ótimos restaurantes, e saindo de um desses locais que começa a história. Como sou assíduo frequentador da cidade, criei uma simpatia por alguns estabelecimentos, e saindo do local de jantar no último sábado, uma cantina impecavelmente decorada com a temática italiana, acompanhada de ótima trilha sonora de mesma origem, e uma cozinha que produz iguarias da região da Emilia-Romagna, notei que o pneu dianteiro esquerdo do meu carro emitia um som diferente, como se tivesse uma bolha ou deformidade. Como não percebi nenhuma alteração na condução do carro, segui meu caminho, e ouvindo o som abaulado e irritantemente compassado, cheguei ao hotel em que me hospedara. De pronto desci do carro para checar se havia algo visivelmente errado com o pneu reclamão.
No dia seguinte, preparado para voltar para a capital, rumei para o posto de combustível mais próximo para abastecer, comprar garrafas de água, etc., e quando desci do carro, notei um parafuso tipo Philips caprichosamente espetado no citado pneu. De pronto, questionei o frentista que me atendia, se havia algum borracheiro que poderia me socorrer. Minha preocupação tinha fundamento, pois até São Paulo são quase 300km de estrada e dificilmente aquele parafuso não provocaria perda de pressão do pneu, e era manhã de domingo, logo, dificilmente encontraria um local aberto para o reparo do pneu. E, enquanto o frentista me indicava um borracheiro que abria aos domingos, lembrei-me de um cartão de visita disposto no balcão do hotel, um cartão de uma borracharia, Borracharia Vida Loka, e lembrando do cartão e do nome do local, pensei comigo como um nome pode liquefazer a confiabilidade de um estabelecimento. Anotei mentalmente as instruções do frentista e fui de encontro ao borracheiro que salvaria minha pele.
Creio que a essa altura, vocês já presumiram qual era o estabelecimento indicado pelo frentista... claro, a Borracharia Vida Loka. Engasgado por meu orgulho ferido e pressionado pela espada da necessidade, encostei o carro na entrada da borracharia e desci rumo ao local de atendimento. Eis que surge um senhor de meia idade, de inconfundíveis sotaque e simpatia caipira, me perguntou como poderia ajudar. Expliquei a situação, prontamente diagnosticada e resolvida por aquele senhor, que nada se relacionava com o nome do estabelecimento, ou com a imagem que tinha de um ‘vida loka’. Dei-lhe os R$10 cobrados pelo serviço e, motivado pela simpatia daquele ‘vida loka’ e por minha envergonhada consciência, também deixei uma ‘caixinha’. Saí de lá rumo a São Paulo aliviado pelo conserto do pneu, questionando meu pré conceito por aquele local, que não conhecera nada além do nome, e impressionado com a terceira lei de Newton, que se utilizou de um pensamento torto lançado no universo para, em reação, me dar uma lição de vida. Realmente estamos aqui para aprender com os nossos erros.

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