VOCÊ É UM CIDADÃO DE BEM, SÓ QUE NÃO

Fonte: www.tribunadabahia.com.br
Por Danilo Rizzo
Se você fosse perguntado sobre seus atos perante a sociedade, provavelmente se avaliará melhor do que realmente é, o que na verdade parece justo na medida em que não é muito comum admitirmos que não somos plenamente civilizados. O artigo de hoje aborda um tema que me incomoda bastante a ponto de ser um dos motivadores da existência de blog. Tão necessário e complexo discuti-lo, que provavelmente esse não será o único texto que eu ou os outros articulistas faremos sobre o tema, e que, na minha visão, é [infelizmente] o grande tendão de Aquiles do crescimento sustentável desse país.

Procurei no dicionário a palavra ‘civilidade’, encontrei: Observação das conveniências, das boas maneiras em sociedade; cortesia, urbanidade, polidez. Todos nós já ouvimos falar uma centena de vezes em frases de como “seu direito termina onde o do outro começa” ou “jamais faça para o seu próximo nada que você não gostaria que fosse feito com você”, e penso que não as ouvimos em vão. Para mim, esses princípios ou costumes, se seguidos, mudariam completamente o comportamento de muitos.

Para subsidiar nosso texto, apresento dois artigos que tratam da mesma questão, mas com abordagens diferentes. O primeiro deles foi publicado no portal iG no último dia 04/06, cujo título é Você é civilizado? 35 deslizes da etiqueta do dia a dia, e não há dúvidas que o modo mais fácil de diagnosticar falhas no comportamento, no senso de civilidade de cada um, são nossas atitudes diárias. O artigo teve a colaboração de consultoras de etiqueta, que formularam a lista dos trinta e cinco deslizes. As atitudes vão desde grudar chiclete no acento de bancos ou cadeiras, passando por desrespeito à portadores de deficiência e às leis de trânsito, até falar alto em público ou ouvir música no celular sem fones de ouvido. Vocês me darão razão quando digo quão lamentável é constatar que todos os comportamentos que constam na lista são vastamente feitos pelos nativos dessa terra tupiniquim. Vejam a tabela completa de deslizes.

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O outro artigo é um pouco mais antigo, de novembro de 2012, e foi publicado pela BBC Brasil, intitulado Lista aponta 10 ‘práticas de corrupção’ do dia a dia do brasileiro. E alguns de vocês devem se perguntar por que trago um texto sobre corrupção quando o assunto é civilidade? A resposta é simples, apesar de não fazer parte da lista que vimos anteriormente, entendo que a corrupção é, provavelmente, o pior ato ante civilidade que se pode cometer. O artigo começa bem, afirmando que ‘quase um em cada quatro brasileiros (23%) afirma que dar dinheiro a um guarda para evitar uma multa não chega a ser um ato corrupto...’ [WTF!] Me digam, por favor, como subornar um agente público não chega a ser uma ato corrupto? Ao ler esse artigo, percebe-se claramente o tamanho do buraco em que estamos afundados.

Fonte: liberdadeazulsp.blogspot.com
Além do suborno do guarda de trânsito, compõem a lista dos atos que por vezes as pessoas não entendem ser corrupção: Não dar nota fiscal; Não declarar Imposto de Renda; Falsificar carteirinha de estudante; Dar/aceitar troco errado; Roubar TV a cabo; Furar fila; Comprar produtos falsificados; No trabalho, bater ponto pelo colega; Falsificar assinaturas. E novamente sou obrigado a constatar com que frequência as pessoas fazem isso. Quem de vocês não conhece alguém que fura filas [eu incluiria ai usar o acostamento durante um congestionamento]? Ou tem aquele amigo que deixa uma nota de R$50 ou R$100 junto ao documento do carro em caso de ser flagrado cometendo algum ‘deslize’ no trânsito? Confesso que não sei como as pessoas não entendem que essas atitudes lesam além delas mesmas, a todos direta ou indiretamente.

Provavelmente a maioria que se viu cometendo algum dos deslizes da primeira ou da segunda lista (ou outros tantos que poderiam compô-las tranquilamente) dirá que faz porque todo mundo faz. Ótima motivação, fazer porque todos fazem. Uma novidade para você: Nem todo mundo faz!!! Nem todo mundo é ignorante, deselegante e mal educado como você e os seus!!! Também há pessoas civilizadas ao seu redor, você apenas decidiu seguir os ‘merdeiros’, os corruptos, os criminosos. Aceitar e cometer as atitudes arroladas em ambas as matérias, além das diversas outras atitudes reprováveis que não as contemplam, é efetivamente uma prática perigosa. Perigosa na medida em que se cometemos, achamos normal que os outros também as faça, e como cometemos, não podemos repreender quando os outros fazem. Se somos corruptos, como cobrar que os políticos, nossos representantes, não o sejam? Por mais duro que seja, para mim, essa constatação é a origem de todos nossos problemas.

Tudo se resume ao bom convívio, à prática de se colocar no lugar dos outros, de pensar que o que é público não é o que não tem dono, mas sim, que todos nós somos donos. Transcender a ideia de que nossos atos, por menores que sejam, não são inofensivos, e que podemos afetar imediatamente a vida de alguém, ou ser um mal exemplo a outros tantos. Precisamos estar atentos aos protocolos sociais e morais, principalmente o último, fundamental para o conceito de civilidade. Finalmente, entender aqueles dois conceitos do início do artigo [“seu direito termina onde o do outro começa” e “jamais faça para o seu próximo nada que você não gostaria que fosse feito com você”] fará com que as pessoas respeitem mais e sempre se coloquem no lugar do outro antes de agir.

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