O PERIGO DA INFLAÇÃO

Por Gerson Moyses
A inflação já foi um inimigo mortal para a sociedade brasileira. Ela corroeu os salários, reduziu a capacidade de compra e impossibilitou qualquer tipo de planejamento. E mais, ela se ‘auto-alimentou’ por meio de mecanismos aparentemente adequados para o curto prazo, mas que no médio e longo prazo se tornaram um desastre. 
Gostaria de citar algumas notícias recentes: 
1ª) A inflação brasileira é assunto na imprensa internacional. O ‘Financial Times’ citou o recente aumento de 100% do tomate, e o impacto na inflação global, que já está em 6,6%. 
2ª) Nos oito anos de governo, Lula criou cinco estatais. Só no governo Dilma, mais cinco foram criadas. A presidente já incorporou à administração federal a Infraero Serviços, a Amazônia Azul Tecnologias de Defesa, a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias, a Empresa Brasileira de Planejamento e Logística (EPL), e a Hidrobrás. Desde o dia 3/5/13 a imprensa vem noticiando a criação da sexta estatal do governo Dilma (uma empresa para a gestão do sistema hidroviário), mas o governo rapidamente negou. 
3ª) Nas comemorações do Dia do Trabalho, o deputado e presidente da Força Sindical, Paulinho da Força, defendeu a indexação dos salários à inflação, em artigo publicado na Folha de São Paulo. Ele justificou que “inflação corrói o poder de compra e impõe sacrifícios às pessoas de menor renda”. O ministro do trabalho Manoel Dias respondeu: "Não considero hoje necessário. Se for necessário, já tivemos. Mas por outro lado ele pode estimular a inflação. Tem que ser muito bem discutido". 
foto: www.ufalsindical.com
Bem, é sabido que quem alimentou o dragão da inflação brasileira nos anos oitenta foi o desequilíbrio entre oferta e demanda, o descontrole das contas públicas, o excesso de tamanho e a ineficiência do estado, aumento da emissão de moeda e os mecanismos de indexação. O resultado: 1000% de inflação no fim do governo Sarney (verdadeiramente um caso de hiperinflação). Um absurdo que os jovens que não viveram aquele período não têm a menor idéia do que foi. E parece que quem viveu aquilo, se esqueceu. 
E quais foram os remédios? Bem, o governo Collor (por mais abominável que tenha sido) promoveu a abertura do mercado brasileiro às exportações. Esse fato foi mal visto pelo então empresariado dominante, mas foi essencial para o sucesso do Plano Real que aumentou a demanda de consumo (esse aumento da demanda também aconteceu no Plano Cruzado, mas com o mercado fechado, as empresas não conseguiam produzir o suficiente, e o resultado foi a ‘inflação de demanda’ e fracasso do plano). Bem, mas voltemos aos remédios. No governo Itamar Franco, o início das privatizações e a elaboração e implantação do Plano Real definiram as providências que seriam tomadas no governo FHC: a intensificação das privatizações (principalmente das teles!), a redução do peso e da ineficiência do estado (reduzindo estatais e ministérios), aumento do controle das contas públicas (com a Lei de Responsabilidade Fiscal) e a desindexação da economia (eliminado os aceleradores inflacionários do próximo período). 
Bem, já dá para ter uma ideia da conclusão: estão sendo ressuscitados os vilões que produziram, alimentaram e aceleraram a inflação na década de 80. A atual meta de 4,5% ao ano a muito não é atingida. Hoje estamos extrapolando o limite superior, mantendo uma inflação acima de 6,5%. Isso é muito perigoso, pois qualquer crise inesperada pode gerar descontrole e provocar um aumento ainda maior. A justificativa do governo é “aceitar um pouco de inflação em prol do crescimento econômico”, mas isso não está acontecendo. Além disso, vemos as notícias já apresentadas: aumento injustificado do peso do estado (para a ‘acomodação da base aliada’) com conseqüente aumento da ineficiência, e agora a proposta de indexação de salários. Não podemos deixar de citar Argentina e Venezuela, com números acima dos 25% ao ano (que são casos patológicos). Outros países da América do Sul como Chile, Peru, Equador e Colômbia têm conseguido manter números entre 3 e 4%, bem mais baixos que os do Brasil. 
E o governo já percebeu que a inflação pode reduzir a aprovação do governo, e dificultar o projeto de reeleição de Dilma. Um indicador é o comentário do ministro do trabalho sobre a indexação dos salários proposta por Paulinho da Força. 
O povo sofreu amargamente e pacientemente, sempre acreditando e apoiando os inúmeros planos econômicos. É preciso contar a todos que não viveram (e recontar aos que já esqueceram) aquele cenário, e que depois de muita ‘tentativa e erro’, foi desenvolvida uma tecnologia para combate à inflação (mais especificamente no departamento de economia da PUC do Rio de Janeiro). Além disso, não se pode deixar de utilizar esse know-how, e nem abandonar as práticas adotadas nos últimos vinte anos, sob a pena de acabar com as conquistas e comprometer os sonhos das pessoas, principalmente dos mais pobres. 
Quer saber mais? Recomendo fortemente a leitura do livro “A saga brasileira”, de Miram Leitão.
Quer ver o mapa da inflação no mundo? Clique na figura abaixo.

Comentários

  1. A nova meta é não ultrapassar os 6,5%.....os 4,5% do centro não faz mais parte da política econômica do governo. Invés de investir em infraestrutura e estimular a produção o governo fecha acordo c a pmsp p manutenção das tarifas do transporte publico mediante o caos no escoamento da safra de soja no porto de Santos. As estatais além de servirem como cabide de emprego ainda ajudam a desviar recursos pra investir em campanha eleitoral. Segundo reportagem do G1 os partidos que disputaram a última corrida presidencial possuíam orçamento de quase meio bilhão, sem considerar os recursos de cx dois.
    Parabéns pelo texto!

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  2. Ótimo artigo. Collor teve seus méritos, que poucos reconhecem, e plantou a base para o Plano Real. A era FHC poderia ter sido mais benéfica ainda para o Brasil, caso Itamar Franco não houvesse decretado a moratória de Minas Gerais em represália ao ver frustrado seu plano de voltar a Presidência da República. Um ato impatriótico, birrento e egoísta que trouxe efeitos nefastos, com o imediato aumento na cotação do dólar. O governo FHC foi o melhor, o mais eficiente, mais racional, o mais corajoso e mais inteligente que já teve o Brasil República, mas que foi atropelado por esse episódio.

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