EXEMPLOS SÃO EXEMPLOS

Por Danilo Rizzo 
Aprendi na faculdade que toda história tem dois lados, duas verdades, e que nosso julgamento só deve ser feito após analisadas as duas partes. Todos agem motivados por algo, concordemos ou não com esse motivo, mas as coisas não acontecem aleatoriamente. Mas há determinados temas em que esse princípio justo e inofensivo parece intangível. 
Quando estava prestes a ser pai, alguém me disse ‘para dar exemplo é preciso ser exemplo’. Desde então essa frase ecoa em minha mente, e por varias vezes eu a disse, não necessariamente em situações como a original, pois julgo ser aplicável em vários outros momentos. Até hoje, passados quase oito anos desde que a ouvi pela primeira vez, ainda busco melhorar em vários aspectos para que meus filhos aprendam com meus acertos e não com meus erros. Também aprendi sendo pai que, para nossos filhos, não importa tanto o que somos, mas sim, quem somos. ‘Quem somos’ é o que fará transmitirmos princípios, exemplos e, sob o véu da pureza da infância, é só isso o que lhes salta aos olhos. E esse ‘quem somos’ não tem cor, religião, escolaridade, etc. Também não diz respeito ao tipo de relacionamento afetivo o qual mantemos. 
Recebi com muito bons olhos a notícia que a Academia Americana de Pediatria apoia a legalização do casamento homo afetivo. Segundo a publicação ‘é do interesse dos filhos que a união entre pessoas do mesmo sexo seja legalizada’. Para a Academia ‘a aprovação ajuda a garantir direitos, benefícios e segurança a longo prazo para as crianças’. Destaco ainda dois trechos da nota que entendo serem de grande valia: "Há um consenso cada vez maior, com base na extensa revisão da literatura científica sobre o tema, que mostra que crianças que crescem em famílias chefiadas por gays ou lésbicas não estão em desvantagem em qualquer aspecto significativo em relação aos filhos de pais heterossexuais”, e, “Se a criança tem dois pais ativos e capazes que escolheram criar um vínculo permanente com o casamento civil, é do melhor interesse da criança que as instituições legais e sociais os apoiem, independentemente de sua orientação sexual”. 
São claras a demonstrações de preocupação com os princípios os quais nossas crianças recebem. Neste caso, menos importante é como é configurada a família, mais importante é como a família se comporta, quais seus valores morais. A união civil dos homo afetivos é fundamental para o casal e fundamental para a criança, que enxerga seus pais ou mães como um casal comum e não uma aberração social. 
Fazendo uma reflexão sobre o tema, acabei criando uma relação entre o casamento homo afetivo e o casamento inter-racial. Hoje, século XXI, a união entre homossexuais causa tanta reação e falatório quanto, há cem anos, um casal heterossexual formado por uma pessoa negra e outra branca, ou por um oriental e um ocidental, ou um judeu e um católico. Essas uniões inter-raciais ‘feriam’ a moral do senso comum tanto quanto hoje os casamentos homo afetivos o ‘ferem’ . E fazendo um paralelo com nosso tema, nem o mais vil dos antissemitas pode suscitar dúvida quanto à normalidade de um filho nascido de pai e mãe de raças diferentes.
Não há dúvidas que nossa sociedade evoluiu e o que, para o senso comum, era moralmente reprovável no passado, hoje não é mais. Assim foi com as relações inter-raciais e assim será com o casamento entre homo afetivos. E caso tenho ficado em algum leitor qualquer mágoa em relação ao meu texto Para não Dizer que não Falei de... Feliciano, faço minhas as palavras do Dr. Drauzio Varella, que em seu artigo Violência Contra Homossexuais diz: “Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social. Os pastores de almas que se opõem ao casamento entre homossexuais têm o direito de recomendar a seus rebanhos que não o façam, mas não podem ser fascistas a ponto de pretender impor sua vontade aos que não pensam como eles.”

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