MUSICA E HISTÓRIA, EPISÓDIO 2 – NINGUÉM SABE O DURO QUE ELE DEU

Por Danilo Rizzo - A primeira postagem deste blog falou sobre um dos vestígios da Ditadura Militar que teimam em não desaparecer. Naquela época, muita gente se calou, outros muitos foram calados pela opressão do regime. Mas o protagonista da história de hoje, deu muito duro, mas ao contrário a maioria dos artistas, ele não foi calado pela Ditadura, ele foi calado por sua própria classe. 
Fui apresentado à obra de Wilson Simonal quando ouvi pela 1ª vez a música Sá Marina, na ocasião, cantada pela Ivete Sangalo em algum programa de televisão que absolutamente não me recordo. Encantado pela música, porém sem nenhuma intenção de comprar o CD daquela cantora, usei os benefícios da ‘locadora Paulo Coelho’ e fui pesquisar sobre a tal música. Descobri Wilson Simonal através de sua contribuição artística, e pesquisando mais, depois descobri como foi sua vida durante a ditatura. Creio que na verdade só soube detalhadamente o que aconteceu com ele nos tempos da Ditadura, assistindo o documentário ‘Ninguém Sabe o Duro Que Dei’, o qual compartilho no final do texto. 
Não vou aqui discutir se foi justo ou injusto tudo o que aconteceu na história de Simonal, não posso afirmar que ele era delator do regime, que mandou ou não mandou agredir aquele contador, que o contador desviou ou não algum dinheiro. Não posso dizer que foi merecido o boicote feito pela classe artística, emissoras de televisão e rádio. E digamos que Wilson Simonal não tinha relação com a Ditadura, também não posso condenar os que lhe viraram as coisas, pois quando se vive um regime de exceção, os julgamentos são feitos sob uma densa névoa. Por conta disso, nosso protagonista amargou um ostracismo que durou de 1970 até seu último dia de vida. 
O que posso falar é que Wilson Simonal de Castro foi um grande artista, enquanto o deixaram trabalhar, ele foi grande, um dos maiores. No documentário a seguir, Miele relata que durante uma conversa com amigos do meio artístico, decretou que Wilson Simonal fora ‘o maior interprete que esse país já teve’... confesso que não sei se Miele está errado. Seu repertoria é impecável, regravado por outros grandes nomes, e é recheado de clássicos como Vesti Azul, Meu Limão Meu Limoeiro, Nem Vem Que Não Tem, A Vida é Só Para Cantar e Tributo a Martin Luther King, provavelmente minha canção preferida, e na qual Simonal faz um discurso tocante em homenagem a seu filho Wilson Simoninha
Em meados da década de 1990, a Presidência da República declarou oficialmente que ele não era um delator, mas parece que nada mudou. Simonal se foi em 2000, não conseguiu se recuperar do alcoolismo nem do ostracismo, ele também foi vencido pela pútrida patologia de renegar ídolos que afeta o povo brasileiro.
O documentário a seguir é longo, eu sei, mas vale cada segundo. Vale pela memória, vale para reparar esse erro histórico, vale para adquirir cultura, vale para ouvir boa música, vale a pena assistir.

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