SOBRE ARREBATAMENTO E FIM DOS MUNDOS


Danilo Rizzo – Meu saudoso pai me dizia que, ao escolher meus caminhos profissionais, eu deveria sempre me preocupar em quanto tempo as atividades inerentes as minhas escolhas seriam substituídas por robôs. Essa preocupação, segundo ele, iria me ajudar a ajustar o rumo da minha carreira antes da onda arrebatadora que tornaria milhares de profissionais em especialistas de atividades que já não mais existem. Como de costume meu pai estava certo e não passo um mês se quer sem ler notícias do tipo: “A tecnologia vai tirar 7 milhões de empregos até 2021”, ou “Até 2030, 5% ou mais empregos serão em áreas que ainda não existem”, ou “10% de todos os empregos em 2013 eram em funções que não existiam em 1990”, ou “A automação ameaça 800 milhões de empregos”.

Comecei a trabalhar com Compliance em 2004, quando o mercado no Brasil basicamente não existia, eu tinha que explicar por que fazia avaliações de fornecedores e, normalmente ao final de minha explicação, ouvia um “isso é coisa de gringo e não vai pegar aqui”. Desde então sempre trabalhei em atividades relacionadas a Governança Corporativa, e vi muitas mudanças ao longo dos anos, tantas de caráter normativo, e outras tantas de caráter tecnológico. Induzido por meu pai a estar um passo à frente, vi um mundo acabar e outro começar, acompanhei o mercado crescer exponencialmente, em profissionais e oportunidades, apesar de ainda achar que estamos engatinhando. Até hoje esse é um ramo lastreado no recurso humano, já que as tecnologias são caras e acessíveis a pouquíssimas empresas, enquanto as exigências legais e de mercado afetam todo tipo de empresa.

Atividades como auditoria, riscos, e controles internos, se automatizaram bastante e os profissionais tiveram que se reinventar para sobreviver, ou foram relegados a atividades e empresas sem protagonismo. As ferramentas de avaliação de terceiros estão por aí, tem para todos os gostos e bolsos, e algumas conseguem encontrar até seus pensamentos mais íntimos. Fornecedores de canais de denúncias terceirizados também existem em boa quantidade, nem todos atendem ao público mais exigente, mas funcionam razoavelmente bem. Porém, por mais automatizada que seja a ferramenta, normalmente quando uma denúncia ou dúvida é registrada, ela é tratada por um recurso humano, que entenderá a demanda, fará perguntas coerentes e, depois de algum tempo, dará uma resposta. Só que parece que até essa atividade está com os dias contados, e não são meses nem anos, são dias! 

Já existe pelo menos uma ferramenta completamente automatizada tirando dúvidas sobre questões éticas dos funcionários de uma das maiores empresas do mundo. Pois é, os funcionários da Accenture podem, anonimamente, fazer perguntas sobre as diretrizes éticas para implantar programas de inteligência artificial de um cliente. O chatbot chamado COBE foi projetado à medida que funcionários e clientes se deparam com uma série de questões éticas em meio ao crescente trabalho em inteligência artificial, veículos autônomos e outras novas tecnologias, e também pode abordar o uso adequado das mídias sociais ou interações de funcionários no local de trabalho.

Segundo a Accenture, garantir que o uso das tecnologias respeite os direitos humanos, impeça vieses e proteja a privacidade do consumidor são algumas das complexas questões que as empresas precisam abordar à medida que continuam a pesquisa e o desenvolvimento, e o COBE, que está disponível em vários idiomas e acessível aos deficientes visuais, fornece orientações a cerca desses temas de uma maneira muito mais natural do que ter que navegar em um site ou ler um longo documento de política.

A orientação que meu pai me deu quando jovem continua valendo, cada vez mais. Não pense que você está a salvo, seja você funcionário ou dono. Não seja arrebatado pela onda, e não ache que ela não chegará.

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