O POLÍTICO PROFISSIONAL OU POLÍTICO VOLUNTÁRIO?

Por Gerson Moyses - Hoje vivemos uma séria e perigosa crise política, causada e ao mesmo tempo potencializada pela corrupção cada vez mais freqüente, escancarada e impune; pelos péssimos serviços públicos prestados ao cidadão; pela altíssima carga tributária; e pela sensação de que vivemos um ‘cada um por si e deus para todos’. Essa situação vem absolutamente na contra mão dos chamados ‘valores republicanos’. Vale lembrar que a origem desse termo é a palavra ‘república’ (do latim: res publica e quer dizer ‘a coisa pública’, ou ‘a esfera dos interesses comuns’). Portanto, os ‘valores republicanos’ estão relacionados à renúncia das vantagens privadas em favor do bem comum. Infelizmente o que vemos é a inversão total do desses valores nas esferas política e partidária brasileira.
foto: arrumabrasil.com
Num passado não muito distante, havia a imagem heroica do político que largava sua profissão para doar quatro anos de sua vida à causa pública. O Brasil já limitou o salário de vereadores entre 1965 e 1975! Hoje não é mais assim. Profissionalizados, os políticos tem como principal objetivo garantir os altos salários e as mordomias, pelo maior tempo possível, além de o tempo todo justificar e conferir uma aura de legalidade para seus estilos de vida.
Devido a essa situação começam a surgir no Brasil movimentos pedindo pelo fim da reeleição para todos os tipos de cargo político, das regalias e dos altos salários dos políticos, ou seja, pelo fim do político profissional. Nesse modelo o político deve ter uma profissão, como outro cidadão qualquer, e oferecer sua competência, seu tempo e seu trabalho voluntariamente em prol da comunidade. Esses casos vão desde o pagamento de salários simbólicos, até o voluntariado absoluto.
Há quem diga que com o fim político profissional, perderíamos os bons políticos. Pode ser, mas tenho a impressão de que essa hipótese seria facilmente refutada e que na verdade nos livraríamos de um número infinitamente maior de maus políticos. Considero também que os mecanismos de fiscalização e controle devam ser utilizados à exaustão para o sucesso do modelo. Como nos ensinou Alfred Chandler (grande historiador da administração), ‘a estrutura define a estratégia’, ou seja, as formas como o planejamento, a organização e o controle serão levados a cabo direcionarão a ação das pessoas, prevenindo e corrigindo os desvios.
Em países como o Uruguai e Inglaterra isso já é uma realidade. Vejam um fato curioso e até mesmo impensado por aqui nos dias de hoje. Em 2011, a cidade de Rapperswil-Jona (na Suíça) publicou um anúncio buscando um prefeito. Isso aconteceu pois pois os salários são baixos e o volume de trabalho é elevado. Segundo o site swissinfo.ch, essa é uma situação comum e naturalmente resolvida.
Em recente pesquisa mundial, realizada em 25 países mostrou que os políticos são os profissionais menos confiáveis, e não é difícil imaginarmos os motivos da desconfiança. Por isso, tenho certeza de que não há o menor interesse dos políticos em mudar esse quadro. Em 2012 foi proposta a PEC 35 que pretendia cortar os salários dos vereadores dos municípios com população menor que 50 mil habitantes. O Senado extinguiu a proposta em 2013.
Temo que o atual modelo se torne insustentável e com graves conseqüências. Por isso acredito que as manifestações contrárias ao político profissional devem se intensificar, motivadas por aspectos éticos, morais e principalmente financeiros.

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