Por Gerson Moyses - Mais um ano está chegando ao fim, e é praxe fazermos nossas retrospectivas e balanços e projetarmos nossas expectativas para 2014. E eu não vou fugir à regra.
Dois eventos marcaram fortemente o ano de 2013: as manifestações de junho e o julgamento do mensalão. A principal motivação: a corrupção generalizada com a qual convivemos.
Bem, na última sexta feira assisti a uma esclarecedora palestra sobre dilemas éticos, ou seja, situações em que devemos escolher entre alternativas contraditórias. E quantas vezes temos que obrigatoriamente tomar decisões nem sempre fáceis e simples?
foto: alanelealteste.wordpress.com |
Resgatei uma pesquisa publicada pela revista Exame em junho de 2013, que investigou como 3.211 empregados de 45 empresas privadas do Brasil reagem frente a vários dilemas éticos tais como: denunciar uma irregularidade, adotar atalho antiético para atingir metas, aceitar suborno, receber presentes e usar informações confidenciais em benéfico próprio. O resultado mostrou que 11% dos entrevistados nunca agem de acordo com o código de ética das empresas. Outros 69% oscilam de acordo com as circunstâncias, podendo atuar de forma ética e antiética. Em resumo, há o risco de 80% desses empregados, ao se depararem com um dilema ético, agirem de maneira antética.
O que orienta nossas opções e escolhas são não apenas nossos valores e princípios, mas também as estruturas que nos cercam. Afirmo isso, pois o caráter e o bom senso são aspectos individuais e relativos, regidos por juízos de valor e, portanto frágeis. É necessário criar normas para que seja encontrado o padrão de conduta mais adequado a uma situação, e definir estruturas que garantam sua efetividade, ou seja, uma condição mais robusta.
Talvez o sistema educacional, por onde obrigatoriamente todos passam em algum momento da vida, seja a instituição com maior potencial para apoiar na reversão dessa situação, valorizando opções éticas e definindo estruturas para sua aplicação. Para isso deve haver vontade política para que a escola não apenas seja uma réplica da sociedade doente em que vivemos, mas seja sempre um pouco melhor que ela. A escola deve ser um ambiente onde se tem contato com o conhecimento, onde se convive com as diferenças e onde deve haver respeito às regras. Infelizmente não é sempre assim. Vejamos o simples caso da cola. Uma pesquisa feita em 21 países mostrou que o Brasil é o 5º na prática da cola nas provas. Esse é um exemplo banal de uma opção antiética para tirar uma nota melhor na prova, e que é replicada nos diversos níveis da sociedade com outras formas e conteúdos.
Espero sinceramente que sejam criadas estruturas para o combate a todas as formas de corrupção, desde a cola até grandes desvios de dinheiro. E o julgamento do mensalão mostrou que isso é possível. Só espero que esse fato não seja um ponto fora da curva, mas o começo de uma mudança.
Aproveito também para agradecer ao amigo Danilo Rizzo pela oportunidade de poder expressar algumas de minhas opiniões no blog Lizard in Zoo. Feliz 2014!
Rsss..... o exemplo da cola foi ótimo!! Realmente a matéria retrada o pensamento de muitas pessoas, mas sou um pouco cético em relação as mudanças. No pasado acreditava que tudo pudesse ser diferente, mas com o passar do tempo vejo essa questão como o comercial da Tostines, "vende mais pq é fresquinho ou é fresquinho pq vende mais?". Para mudar os indivíduos precisam iniciar este processo, mas como? Se são eles os maiores beneficiados pela corrupção, e isso invade a educação, a sociedade, as empresas, etc. Não é raro exemplos de corrupção em todas as faixas da sociedade. Não tão bom como o exemplo da cola, a "CAT TV" é outro exemplo de corrupção, quando pessoas com alto poder aquisitivo em prédios de luxo se beneficiam com sinal de forma indevida e se sentem vangloriados com a situação, contando vantagem para os amigos por pagar o plano básico e o funcionário que realiza a manutenção fornece o cartão que libera todos os canais.....fica(m) a(s) pergunt(s)a, como será este indivíduo como gestor de pessoas? Quais são seus valores éticos? Como toma suas decisões quando envolve situações relativas?
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