Por Danilo Rizzo - Eis que chegou ao final o mais emblemático julgamento de
corrupção já visto em 513 anos de existência formal de nosso país. Do aceite da
denúncia do Ministério Público pelo Supremo Tribunal Federal em agosto de 2007
às prisões dos principais condenados, foram pouco mais de 6 anos de tramitação
da Ação Penal 470, os quais, necessariamente, precisamos tirar algumas lições.
foto: facebook.com |
Desde a CPI que recomendou a cassação dos mandatos de 18
deputados, aconteceu um pouco de tudo. José Dirceu, Roberto Jefferson e Pedro
Corrêa tiveram os mandatos cassados, e Valdemar Costa Neto, Paulo Rocha, José
Borba e Bispo Rodrigues renunciaram para não perder o cargo. Em abril de 2006,
o então procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, apresentou denúncia
e apontou 40 pessoas envolvidas no caso. Um dos acusados morreu, o deputado
José Janene, e o ex-dirigente do PT, Silvio Pereira, fez um acordo para
colaborar com a investigação e foi condenado a prestar trabalhos comunitários.
Em agosto de 2007, o STF aceitou a denúncia e passou a tramitar a Ação Penal
470. Entre acusações de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva,
peculato, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta, a
negativas da existência do mensalão e a tentativa de justificar que tratava-se
de “caixa dois”, o julgamento, cujo processo continha mais de 50 mil páginas e teve
aproximadamente de 600 pessoas ouvidas, estava previsto para durar até dois
meses, mas se tornou o mais longo em 120 anos da história do STF.
Cenário pintado e me esquivando do jus sperniandi dos mais sensíveis, ainda não sei quais lições podemos tirar do drama mexicano que se tornou o julgamento do mensalão petista. Alias, permito-me referir ao tema como ‘mensalão petista’, já que é de conhecimento público que há pelo menos mais um mensalão, o tucano, que deverá, e assim espero, ser julgado pelo STF.
Que os réus foram
condenados injustamente. Me parece que não. Tivemos um julgamento público,
com discussões por vezes acaloradas entre relator e revisor, e mesmo com a
saída de alguns Ministros e a entrada de outros, a maioria sempre votou pela
condenação dos réus.
Que houve
perseguições e que os condenados são presos políticos. Também não vejo
sentido nisso, pois além de terem o direito de ampla defesa inatingido, os
condenados pertencem ou pertenciam a partidos políticos da base da situação do
governo. Viva a democracia! Viva o estado democrático de direito!
Que as condições dos
condenados nas prisões às quais foram levados são degradantes. Nisso devo
concordar. E não só a deles, mas a situação de 10 entre 10 habitantes do
sistema carcerário desse país. E também não vejo fundamento na gritaria de que
alguns condenados foram revistados nus, tomaram banho com água fria, e vestiram
uniforme de preso. Levando em conta que eles são cidadãos condenados pelos
crimes cometidos, vejo a situação descrita como absolutamente natural. Ou algum
de nós estaria disposto a financiar um sistema de aquecimento d'água e
confortos de palacetes a, por exemplo, o ladrão que roubou sua casa?
foto: facebook.com |
Que o julgamento do
mensalão serve de lição à sociedade. Ainda não me sinto confortável para
afirmar isso. Um julgamento que visa clarificar questões tão relevantes para a
vida do país, não pode demorar mais de 6 anos para ter fim. Provavelmente
engrossarei o coro dos que assim pensam quando assistir a condenação dos
responsáveis por alguns dos casos de corrupção listados no quadro.
Por fim, que Joaquim
Barbosa têm má índole e fez vistas grossas a situação de saúde de José Genoino.
Não concordo. O Ministro fez seu trabalho, e vale lembrar que nenhum juiz de
Direito pode tomar qualquer decisão pautado no que assistiu no jornal das 20h.
Ele precisa ser notificado pelas partes interessadas e legitimas, para aí sim
decidir. Ainda nesse tópico, vejo com muito maus olhos, as manifestações dando
conta que Genoino forjou sua situação de saúde para deixar o cárcere. De forma
humanista, não podemos supor que ele estaria induzindo seus mau estares. Como
qualquer um de nós, condenado por crime ou não, ele tem todo direito de ser
assistido.
Comentários
Postar um comentário