HUMAN FACTOR, EPISÓDIO 3 – CAUSA E CONSEQUÊNCIA

Por Danilo Rizzo
Quando escrevi sobre Steve Jobs disse que a vida dele não fora diferente da vida de muita gente, mas elementos da personalidade e um inabalável apego à sua missão terrena transformaram-no em quem ele foi. Creio que essa receita pode ser utilizada na mesma dose a esse outro cara que passo a escrever sobre.


Todos vocês devem conhecer Michael J. Fox [se você não conhece, por favor, jogue o nome do cara no Google], provavelmente da trilogia De Volta Para o Futuro, onde ele interpretou o inesquecível Marty McFly [para a molecada que gosta da banda McFly, os caras têm esse nome por causa do personagem do filme, e vocês deveriam saber disso]. Essa trilogia (1985, 1989 e 1990) lançou Michael ao status de big movie star no início dos anos 90, mas ele já fazia sucesso na terra do Tio Sam antes disso, no seriado Family Ties, (chamou-se Caras e Caretas por aqui) onde interpretava Alex P. Keaton, o mais velho de três irmãos. Para terem noção de como ele já era conhecido, enquanto a serie durou, de 1982 a 1989, Fox ganhou nada menos que três Emmy e um Globo de Ouro. Outro trabalho marcante na Tv foi como Mike Flaherty, no seriado Spin City, transmitido aqui no Brasil pelo Canal Sony. Nele, Fox atuou nas temporadas de 1996 a 2000, e seu personagem lhe rendeu mais alguns prêmios, três Globo de Ouro, dois SAG Award, e um Emmy. A série continuou a partir de 2001 com Charlie Sheen como ator principal no lugar de Fox, que se afastava das atividades de ator por problemas de saúde. Michael sofria de Doença de Parkinson.
A Doença de Parkinson foi diagnosticada em 1991, e em 1998, Michael revelou-a publicamente. Como vimos, ele deixou a atividade como ator e embarcou numa jornada sócio-política importantíssima em defesa dos portadores da Doença de Parkinson. Para terem uma ideia, a The Michael J. Fox Foundation For Parkinson Research é mundialmente a segunda maior investidora em pesquisas de células tronco e cura da Doença de Parkinson, apenas atrás do governo Norte Americano. Fox engajou-se de tal maneira na causa que desde meados da década de 2000, corre os Estados Unidos em época de eleição apoiando candidatos a cargos políticos que tenham em seus planos de governo ideias progressistas em relação aos temas acudidos por sua fundação. Seus esforços foram reconhecidos em 2010, ao receber o título de doutor honoris causa da Karolinska Institutet, da Suécia, por seus esforços na luta contra o Mal de Parkinson.


Nesse período de ‘aposentadoria’, Fox publicou alguns livros autobiográficos. Li dois deles, Um Otimista Incorrigível, de 2009, e Coisas Engraçadas Acontecem no Caminho Para o Futuro, de 2010. O primeiro é dividido em quatro temas, e mais que contar suas dificuldades, Michael relata como aprendeu a viver com a doença, como é seu dia a dia e como passou a se relacionar com o trabalho, a política, a fé e a família. No segundo, ele relata o difícil inicio de carreira nos Estados Unidos, depois de ter largado a escola no Canada sem completar o ensino médio. Fala de tudo o que a vida se encarregou de lhe ensinar: um pouco de economia, de literatura, de física... um pouco de tudo. O verdadeiro aprendizado, segundo ele, surge quando menos esperamos. Em ambos os livros que li, Fox se apresenta com um humor invejável e um otimismo desconcertante, até mesmo, por exemplo, quando ele foi publicamente atacado por uma daqueles tele pastores norte americanos, que insistia em dizer que a ‘tremedeira’ que Michael demonstrava em suas aparições na Tv não passavam de atuação. Confesso que ao terminar esse momento do livro, fui ao Youtube para assistir a declaração desse tele pastor, experiência que resumo em uma palavra: asquerosa. De minha parte, assisti o seriado Caras e Caretas, mas só reconheci Fox após o primeiro De Volta Para o Futuro, e fiquei fã dele. Depois vieram os outros dois episódios que completaram a trilogia. Também adoro outro filme dele, Doutor Hollywood, e claro, Spin City, que assisti desde a primeira temporada e chorei perplexo quando ele se despediu da série. Sempre que pude me mantive a par de sua luta contra a Doença de Parkinson e acompanhei admirado suas vitórias, e quando perguntado, indico seus livros. E eis que no mês passado, leio a notícia que ele está de volta a Tv com sua própria série, The Michael J. Fox Show, interpretando um ancora de jornal que possui a doença. Imperdível, assim como sua lição de vida, de como podemos encarar as coisas que acontecem em nossa vida. No caso dele, a descoberta da Doença de Parkinson poderia ser a causa de seu fim... pessoal, profissional, físico e espiritual, e ao contrário, dela gerou-se uma nova vida, consequência direta de como ele a encarou.

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